Cristine de Castro Mantovani - Apresentação

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Cristine foi contratada pela Sra. Francisca de Matos Bragança quando tinha quatorze anos, para o serviço de ajudante geral na cozinha da fazenda. Não havia uma infinidade de empregados, mas a função em que ela estava era a mais rotativa, e a mais fácil de ser mandada embora por um errinho qualquer.

A garota, nervosa, mexia na chaleira e colocava em cima da mesa de madeira, enquanto tentava voltar um caldeirão pesado para o fogão de lenha.

— Maria! — Um rapaz que estava sentado comendo um pedaço de pão e observando a garota gritou e fez com que ela se assustasse. — Maria, como é que deixa a menina aqui assim sozinha? Quer acabar com a vida da menina, Maria? Olha a finura desses braços, ela não aguenta isso sozinha não, Maria! Você sempre deixando seus trabalhos para os novatos, Maria. Deus está vendo, e não se agrada nada disso.

— Ah, não, não brigue com ela, por favor. — Cristine pediu, estendendo os braços para o rapaz — Eu que pedi para que ela me desse as tarefas mais difíceis.

— E por que pediu isso, garota? — Ele estranhou — A vida já é uma merda para pessoas como eu e você. Se procurar a merda em vez de fugir dela, vai acabar se afundando. E eu posso garantir, não é nada agradável estar coberto de merda.

Cristine não sabia o que responder por um momento, apenas riu.

— Eu começo na segunda. A Sra. Francisca disse que eu poderia vir antes para aprender o que quisesse.

Ele pareceu pensar um pouco e depois se levantou, balançando a cabeça.

— Eu vou te ajudar. O anjo da caridade me visitou essa noite e falou assim "Ou você me obedece dessa vez ou eu e o Senhor Jesus Cristo vamos esquecer até mesmo do seu nome". — Ele a olhou e ficou surpreso em ver que ela parecia estar acreditando e ouvindo atentamente — Por Deus, não ouça tudo o que eu digo, garota, ou vai parar no buraco. Venha comigo.

Cristine saiu da cozinha, confusa.

— Mas eu... eu fui contratada para ser ajudante da Maria.

— Esse é um destino muito ruim, até para o mais ingênuo dos seres humanos, como você parece ser. Aliás, de onde vem esse sotaque? É da Itália?

— Sim. — Ela sorriu, animada, achando que falariam sobre seu país de origem, de onde tinha acabado de vir, não fazia nem dois anos. — E você, di dov'è?

— O Sr. João não gosta de italianos, no geral. A Sra. Francisca vai se irritar se a senhorita não entender alguma das palavras dela. É bom estudar melhor o português. E se isso realmente a interessa, eu sou da Inglaterra, ou pelo menos foi o que me disseram.

— E o que faz por aqui? — Ela o seguia, animada. Tinha a impressão de ter encontrado a pessoa perfeita para ensiná-la, e sua intuição nunca falhava. Acreditava mesmo que um anjo o tivesse mandado até ali, porque, por Deus, ela precisava daquele emprego.

— Eu sou secretário do Sr. João.

— Ah! — Cristine se mostrou surpresa. — Parece importante. — Ela se esforçava para acompanhar os passos dele pela propriedade — Não imaginava que a Sra. Francisca se irritasse fácil. Ela parecia tão gentil.

— E ela é. — Ele a olhou nesse momento e depois voltou a se concentrar no caminho — Mas existe uma grande diferença entre ser bem tratada como pessoa e ser considerada uma serva útil. O que você quer?

— Ser uma serva útil. — Cristine nem pensou duas vezes.

— Então, preste bem atenção. Vou dizer exatamente o que precisa fazer e, se seguir exatamente todos esses passos, em alguns anos os Bragança vão confiar plenamente em você, e quem sabe comecem a cogitar a possibilidade de você ser indispensável.

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