A Explicação do Caso Bragança (e seus desdobramentos)

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O narrador que os acompanhava em outra fase não é o mesmo que está prestes a contar a história a partir desse ponto. Isso porque agora se faz necessário apresentar os fatos de modo mais imparcial, e ele jamais conseguiria esse feito. Também era completamente irresponsável ao esconder de vocês, leitores, informações preciosíssimas nesse joguinho de suspense idiota que ele achava que era o máximo.

O narrador de agora, mais sério e comprometido, pode garantir a você, leitor, que as informações a partir de agora serão passadas por completo.

(risos)

É mentira. Ainda sou eu. Seu amado e às vezes injustamente incompreendido narrador. Mas é verdade, estamos em uma nova fase e nada do que foi será do jeito que já foi um dia (onde foi que eu ouvi isso?), porque esse é o meu momento de brilhar, em que finalmente terei a chance de contar as coisas ao meu modo, e para isso vamos precisar voltar no tempo algumas vezes e revelar de uma vez por todas...

A EXPLICAÇÃO DO CASO BRAGANÇA (e seus desdobramentos)

Portanto, vamos regressar todos juntos ao dia da morte, o terrível acidente que levou o Sr. João e a Sra. Francisca de Matos Bragança, e sim, não podemos nos esquecer do motorista, o simplório e fiel empregado, Seu Herculano.

Tudo corria como um dia normal no Rio de Janeiro e naquele dia em específico, mais do que normal para o Prefeito Luis Rodrigues. "Ai narrador, vamos começar logo falando do demonho?" Sim, é necessário, pois é nele que toda essa bagunça se concentra.

Uma semana antes do acidente o homem foi visitar o Governador Sérgio Duarte, um sujeito que, cá entre nós, não é exatamente flor que se cheire, mas nem de longe ostenta o fedor de bosta que o Prefeito tem. Ele pode ser visto aqui nesse caso como... um ser ingênuo e talvez um pouco preguiçoso, porque por um pequeno erro atraiu para si um grande problema.

— Então, como combinamos, aqui está o contrato. — O Prefeito colocou a pasta de couro sobre a mesa do Governador, enquanto se perguntava como um energúmeno daqueles havia alcançado uma posição tão alta — Isso vai desviar as atenções do nosso... pequeno probleminha.

O Governador Sérgio abriu a pasta e fingiu ler alguma palavra que estava escrita entre a primeira e as últimas páginas.

— Uma construtora? Por favor, Prefeito, refresque minha memória... — Ele se encostou na cadeira atrás da imponente mesa — como isso vai nos livrar do nosso problema?

Fez questão de reforçar o fato de que se afundasse, Luís também ia junto.

— É uma empresa de fachada. Eles vão nos repassar o dinheiro por fora, em troca de uma porcentagem, é claro. Com esse dinheiro fora de circulação, o Banco arquiva as movimentações anteriores e o problema do investimento na fábrica dos Duarte vai para o arquivo junto, como se fizesse parte do investimento na construtora, em uma licitação só. Eu já fiz o acordo com meu conhecido de confiança, o chefe da administração, e em troca ele só quer um cargo como secretário para seu genro, um pedido bem simples de atender, não?

Sérgio ergueu uma das sobrancelhas, pensativo e hesitante. Não havia dúvidas de que ele era corrupto, e desviaria a quantidade de dinheiro que precisasse para se manter no poder, porque já havia entendido que a política funcionava como uma eterna troca de favores e fora isso que o levara até aquele cargo de tanto prestígio, no auge do começo da República. Ele fazia o que era preciso.

— Muito bem. — Assinou os papéis e abriu uma gaveta com a chave que guardava em seu bolso, colocando a pasta lá dentro, por baixo de todas as outras. — Está feito.

Ele e Luís apertaram as mãos e assim se encerrou a reunião de negócios. Em seguida, Luís deixou o Palácio e partiu para um galpão abandonado, no meio do nada, e ali se encontrou com os donos da empresa de fachada, que na verdade eram seus capangas.

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