Para o leitor é de extrema importância que seja contado sobre o reencontro dos irmãos Bragança? Sim? Pois isso nos tomará um tempo essencial, e desse modo acabaremos por perder a chance de terminar esse capítulo de um modo completamente decente. Bem, em todo caso, é possível identificar que sem revelar absolutamente nada sobre o momento, o leitor tende a pensar que não aconteceu, e assim por consequência que os membros da família são monstros insensíveis que nem sequer sentirão a falta dos pais.
Entenda, é bem o oposto disso. E não se esqueça: você foi avisado, querido leitor.
André, Augusto, Carlos, Nicolas, Henri e Eloise desembarcaram no porto por volta das cinco da tarde e logo tomaram um carro diretamente para a fazenda dos Bragança, sem avisar ninguém da cidade sobre sua chegada, e tentando inclusive não fazer nenhum alarde em relação a isso. (Um jornalista muito esperto, porém, consultou a lista de passageiros do navio e identificou que eles haviam chegado ao Rio de Janeiro, finalmente, e isso saiu em uma breve observação na sua coluna intitulada "A cidade capital", é claro.)
Os irmãos e seus amigos chegaram na fazenda quando já estava escuro, e encontraram Ana Francisca na porta, pronta para recebê-los no estilo mais formal que sua mãe a havia ensinado ser o certo com homens mais velhos, embora esses fossem seus irmãos. Os três homens se aproximaram e se entreolharam, ao mesmo tempo que observavam a irmã, sem saber ao certo o que deveriam fazer.
André não esperava que aquele momento fosse se revelar tão difícil. Ele esperava, àquela altura, já ter superado o suficiente para não sentir mais vontade de derrubar nenhuma lágrima mais e agir como o irmão mais velho que deveria ser, trazendo conforto e segurança para os outros irmãos. Sabia, porém, que essa posição combinava muito mais com Carlos, e esperava isso dele, mas o mais novo não se movia nem um passo para frente nem para trás.
Augusto suspirou pesado ao ver a irmã ali, imóvel e aparentemente amedrontada pela situação em que se encontrava. Ele não imaginava pelo que ela teria passado tendo que lidar sozinha com as formalidades do velório e enterro, das condolências das pessoas, e de ter que conviver sozinha com essa perda por pouco mais de um mês. Agora ele estava ali, mas por que é que não conseguia se mexer e abraçá-la? Estava esperando um dos irmãos dizer alguma coisa que preste, talvez? Porque ele mesmo não era bom nisso, e abraços não curavam feridas, mas as palavras certas talvez sim. E esperava isso de Carlos, afinal, ele era o que sempre sabia o que dizer, especialmente nesses momentos, mas o mais novo não chegava nem sequer a movimentar a mandíbula na tentativa de dizer alguma coisa.
Carlos, a ponte que sustentava os irmãos sentimentalmente, não conseguia sequer engolir a própria saliva. Sua garganta travou no momento em que viu a irmã, e teve consciência de que nunca mais veria sua amada mãe, com quem Aninha se parecia muito até fisicamente, e seu incrível pai, com quem ele mesmo gostaria de se parecer. Suas pernas também não o obedeciam, e na realidade o decepcionaram porque não era daquele modo que ele esperava reagir ao reencontro. Ele tinha combinado com os irmãos de que sentiriam tudo quando chegassem ao Brasil e pretendia ajudar todos eles a superar essa perda, já que sabia muito bem o que era a morte porque a via todos os dias. Ele devia ter previsto que reagiria assim. Não se acostumava com a morte. Nunca. Nunca. Não aceitava, e na verdade até sentia um pouco de ódio, imaginando-a como uma pessoa. Só ali se deu conta de que era um fardo pesado demais para suportar sozinho, e que precisaria de seus irmãos para suportar aquilo.
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Bragança & Cia
Romantizm[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...