A Caixinha de Música - Capítulo Bônus

33 5 127
                                    

Venho aqui com uma história do passado. Embora nem todos mereçam, pois nem todos imploraram e proferiram palavras elogiosas à minha pessoa, eu sou como Deus, misericordioso, e faço o sol nascer para todos.

"Ah, mas então vamos ter que esperar para saber o desfecho da história do sequestro de Carlos e Pierre?". Afinal, vocês querem ou não saber o que realmente aconteceu entre Toninho "O Traíra" e os irmãos Bragança ou não? Ah, muito bem. Imaginei.

Segue a história, mas dessa vez não será contada por mim...

DOIS AMIGOS E A CAIXINHA DE MÚSICA

É. Eles me chamavam de Toninho. Mas não era "Toninho, O Esperto", ou "Toninho, O Maioral"... era "Toninho, O Estranho".

Eu era sozinho, mas não me importava com isso. Observava os outros garotos e, sinceramente, não via muito sentido em acompanhá-los. Eles eram burros. Incluindo os Bragança.

Augusto adorava se meter em confusão, e o mais espertinho ali era o André, que vivia livrando a cara dele, mas eles não planejavam muito bem as pegadinhas que adoravam fazer, sempre saía alguma coisa errada.

Eles eram populares no colégio, conhecidos por todos, mas tinham lá seus rivaizinhos. E era tão fácil tirar os dois do sério... o jeito mais fácil era mexer com Carlos. Qualquer um que encostasse nele, olhasse torto, ou fizesse qualquer tipo de piadinha era praticamente um garoto morto. Eles já chegaram a jogar um gordinho idiota de uma cachoeira e, olha, era muito alta. Na minha opinião ele poderia ter morrido, mas ficou tudo bem, e é por isso que eu penso que André era minimamente inteligente, porque por muito pouco as coisas não davam errado para eles. De alguma forma, sempre conseguiam se safar.

Eu era encrenqueiro também, mas agia sozinho. Aprendi a me defender, e a fazer os outros garotos terem medo de mim. Os únicos que pareciam não ter eram eles, André e Augusto, e isso acabou se tornando um desafio, tanto para eles quanto para mim. Carlos e eu éramos da mesma sala, mas ele também não falava com muitos outros garotos, vivia com a cara enfiada nos livros e às vezes era arrastado pelos irmãos para alguma gracinha que obviamente não queria participar.

Um dia, éramos garotos, tínhamos o que? Uns trezes anos, e ele me viu treinar piano, sozinho em uma sala do colégio, e acabou entrando e observando de longe, por muito, muito tempo. Eu vivia imerso no piano, e aquela era uma das minhas fugas prediletas na época. Ainda é para falar a verdade. Então, quando estava escuro e eu percebi que meu estômago já nem reclamava mais de fome por questão de desistência, eu olhei para trás e o vi ali.

— Você toca muito bem.

— Você parece um fantasma, — Respondi, realmente assustado — aí parado e agarrado nesses livros.

Carlos riu e por algum motivo que não entendo até hoje, eu também. Não sou dado a risos, nunca fui, mas ele era contagiante. E, depois disso, nos tornamos amigos. Tínhamos gostos parecidos para leitura e por descobrir as coisas por aí, sem precisarmos de outros garotos para estragar as brincadeiras, então foi inevitável.

Me lembro quando os irmãos dele descobriram, porque é claro que ele não queria contar e eu entrava escondido na casa dele para brincar.

— O que o Toninho das calças largas está fazendo aqui? — Augusto sempre me inventava apelidos novos, e eu não sabia de onde ele tirava tanta criatividade. Olhei para as minhas calças e percebi que eram mais largas do que as deles, porque realmente, eu era bem mais magro na época. — Vai procurar um cinto para prender essas calças e deixa meu irmão em paz.

— Saia da nossa casa. — André completou.

— Fui eu que chamei ele aqui. — Carlos se colocou na minha frente como se esperasse que os irmãos me atacariam a qualquer momento — Estamos construindo uma estação de trem para um projeto da escola.

Bragança & CiaOnde histórias criam vida. Descubra agora