Saori acordou com a luz do sol invadindo o quarto pela janela. Ergueu a cabeça para observar os irmãos que dormiam ao lado, todos espalhados em esteiras de palha. Kaede e Ren dormiam tranquilamente, mas ela estranhou o fato de que Mayumi e Seiji não estavam ali.
Saiu do quarto e foi atrás dos dois pelo cortiço, que ainda não havia amanhecido completamente. Encontrou o garoto deitado sobre uma mureta e Mayumi aparentemente preparando um emplastro ou algo do tipo.
— O que houve? — Saori perguntou, conversando com os irmãos em sua língua nativa, japonês. Ela percebeu no mesmo instante que o mais novo não parecia bem. Estava suado e quieto, e principalmente pelo fato de estar quieto foi que ela desconfiou. — O que você tem, Seiji?
— Dor na barriga. — O garoto reclamou. — E frio.
Saori colocou a mão sobre a testa dele e depois sobre a barriga, percebendo que o garoto estava com febre.
— Eu acordei mais cedo para terminar os lenços que temos encomendados e percebi que ele estava doente. — Mayumi explicou para a mais velha.
— O que é isso? — Saori olhou para dentro do pote que a garota mexia e se aproximou para sentir o cheiro — Onde arrumou maçã e canela?
— A Sra. Martha me deu. — Mayumi explicou, enquanto macerava os alimentos demonstrando certa ansiedade e preocupação — Temos muitos lenços para entregar aos Duarte. Eu deveria estar no estúdio uma hora dessas.
— Me dê. — Saori esticou a mão para a irmã e ela lhe entregou o pote — Vá. Vamos dar um jeito.
— Eu vou precisar da ajuda da Kaede.
— Tudo bem. — Saori escondeu a preocupação e balançou a cabeça para que a irmã não se importasse — Eu cuido dele.
— Não vai trabalhar na casa dos Bragança hoje?
— Vou. Mas posso levá-lo comigo.
— É seu primeiro dia na casa deles. As coisas não são diferentes da fazenda?
— Não se preocupe. Eu cuido de tudo. Termine a encomenda dos Duarte. Leve Kaede e Ren com você.
Saori olhou para Seiji, ainda deitado e se contorcendo levemente pela dor. Definitivamente não era ideal esconder o irmão mais novo pela casa logo no primeiro dia de trabalho, mas mais importante era entregarem a encomenda de lenços a tempo. Estavam construindo uma reputação com o novo estúdio de costura, e a pontualidade era uma qualidade imprescindível.
***
— Seu nome?
— Saori Shinkai. — E depois de ver a careta dele, ela sorriu e completou: — Mas pode me chamar de Sara.
— Se seu nome é Saori, porque quer ser chamada por outro? É uma fugitiva? Fale agora porque se eu coloco alguém errada dentro dessa casa é o meu que está na reta também.
— Não, não. — Ela pensou um pouco e formulou as palavras em português na mente antes de dizê-las, já que ainda não era completamente fluente na língua. — Os nomes japoneses são difíceis de pronunciar, entendemos isso. Por isso adotamos um parecido para... — pensou na palavra certa para "fazer fácil" — facilitar.
— Sara, então. — Ele assentiu e fechou o caderno com os papeis de registro — Você não parece ser uma imigrante. Na verdade, não parece nem mesmo ser uma criada. Mora aqui há muito tempo?

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Bragança & Cia
Romance[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...