Nicolas Armand - Apresentação

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Nicolas, quando criança, vivia em uma fazenda com os pais no sul da França. Ele sempre foi o mesmo, desde pequeno: um rapaz doce e gentil, tímido às vezes, discreto em alguns momentos, e reservado nos demais. Apesar de tudo isso, era muito fácil para ele fazer amigos, e essas pessoas sempre foram as mais importantes da vida de Nicolas, talvez até mais que seus próprios pais.

Não o leve a mal, por favor. Para ele também é muito difícil dizer que não suporta o pai, e que a mãe não fede nem cheira por não fazer nada a respeito de seus problemas com o chefe da família.

Com seis anos de idade Nicolas foi obrigado pelo pai a torcer o pescoço de uma galinha. Aos nove, a acertar a cabeça de um porco. Quando completou doze anos, seu presente de aniversário foi ver em cima da mesa seu galo de estimação, que já passava da hora de morrer, de acordo com o pai. Ele já foi obrigado a trabalhar por horas a fio, não pode frequentar a escola depois dos treze, pois já tinha aprendido o suficiente e estava na hora de ser produtivo, e nem sequer podia escutar música em casa, a não ser quando seu pai quisesse, e seriam os discos que ele permitisse.

Nicolas nunca quis matar nenhum animal. Ele se sentia tão triste por isso que implorava ao pai para que não tivesse que fazer. Seu desejo nunca foi trabalhar na fazenda, e sim estudar direito e trabalhar como advogado na cidade. E a maior paixão da sua vida era a música.

Sua vida era o pior dos infernos que alguém como ele poderia viver, mas nunca revidou, desrespeitou ou mesmo agrediu seu progenitor. O alívio de sua vida eram os amigos, que sempre gostaram muito dele. Através dos amigos Nicolas soube que não era uma pessoa desprezível, como o pai sempre lhe disse que era. Viver uma vida tranquila ao lado de pessoas que o faziam bem era seu maior sonho.

Então um dia ele simplesmente foi embora.

***

— Vamos, moleque! Bata aqui, na minha cara! Eu o desafio! — O homem gritava e cuspia na cara de Nicolas, que permanecia imóvel, olhando fixamente para frente, com os braços para trás e uma postura impecável como o bom policial que era. — Quem é você para dizer que o que eu fiz foi errado? Hãn? Por acaso você já teve uma mulher como ela? Sabe o que foi aguentar essa vadia durante todo esse tempo? Se está com tanta raiva de mim e nem deseja me ouvir, então bata na minha cara e diga a verdade, seu covarde!

Nicolas o encarou naquele momento, com a expressão fria e ao mesmo tempo enojada.

— Eu sei o que você fez.

— Me diga como!! Me diga como, seu patife!

— Porque eu reconheço a maldade no olhar, e no seu existe de sobra.

O homem riu.

— Ah, então diga isso ao seu delegado! Coloque aí: foi preso porque um policialzinho mequetrefe, filho de uma puta, decidiu que seria assim. Sem provas, sem testemunhas, sem nada.

Nicolas se virou para o homem e limpou o rosto, calmo, sereno e tranquilo.

— Uma testemunha disse ter ouvido sua mulher gritar por socorro. Encontramos marcas de sangue na sola do seu sapato, e os instrumentos que o senhor utilizou e não soube enterrar direito. Sua falecida esposa já havia sido vista andando por aí com marcas de agressão, e existem outras três testemunhas muito bem dispostas a dizer a verdade para o delegado. Elas estão lá dentro com ele agora, e eu só tenho que te manter quietinho aqui junto com aqueles outros dois policiais até que a acusação seja fechada. Em seguida, o senhor será condenado. Sabe que pelas leis da Inglaterra homicídio é um crime que pode ser punido com execução, não sabe? A julgar pelo nível de crueldade do seu provável ato criminoso, e também pelo fato de ela ser completamente indefesa perto de um sujeito do seu tamanho, e se agravando ainda mais pelo fato de ser no ambiente doméstico, um local de extrema vulnerabilidade... — Ele fez um bico — eu diria que se eu fosse o senhor, exerceria muito bem o meu direito de ficar calado nesse momento.

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