Redação

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"Cuidar dessa boneca foi um tanto quanto frustrante. A boneca não me deixava dormir e quando eu iria me deitar ela chorava novamente. Então professor, pega essa — e enfia no meio do seu — junto com um cacto de oito metros.

             Angell Green e Daniel Clark"

Essa foi mais uma redação e mais uma folha no lixo.

Que foi?

Nunca viram uma pessoa tentando escrever algo útil para entregar em uma aula? Pois, eu estou tentando, mas infelizmente, esse não é o meu forte.

O meu celular vibrou na mesa e eu peguei-o, era uma chamada do meu pai e atendi.

- Quê?

- Oi pra você também, filha. Educada como sempre, não é? - o meu pai disse e ouvi uma gargalhada sarcástica do outro lado da linha.

Revirei os olhos e pousei o celular em cima da mesa e ativei o "viva-voz".

- O que você quer paizinho? - debochei me levantando da cadeira e caminhando para outro lugar.

- Eu quero te contar uma novidade - ele disse. Um sorriso cresceu em meu rosto.

- Vai me tirar daqui finalmente? - perguntei entusiasmada e logo ouvi um 'não'. Meu sorriso desapareceu e revirei os olhos de novo.

- Eu e Victória compramos uma casa perto do seu colégio e dentro de um mês nós estamos ai perto de você.

- Por quê? - ergui uma sobrancelha.

- Estamos com saudades de você, ué.

- Eu não - afirmei e senti o meu pai revirar os olhos.

- Mas nós vamos e já está decidido. Tchau, se cuida - dito isso, ele desligou e eu bufei.

Era só o que me faltava.

Voltei a me sentar na cadeira e tentar escrever outro texto falando sobre a nossa experiência com Alyce.

Minutos se passaram e eu pelo menos tinha alguma coisa boa na folha de papel.

"Cuidar de Alyce foi"

É, parece que só saiu isso da minha linda cabecinha.

Ouvi uma batida da porta e olhei para trás.

- DANI! - corri na direção dele e pulei em seu colo fazendo-o que se assustasse e quase me deixasse cair.

- O que aconteceu? - ele perguntou gargalhando e me colocando no chão.

- Faz a redação da Aly pra mim - eu disse e o Dani revirou os olhos.

- Pensei que era algo importante ou que estava com saudades de mim - fez beicinho e depois andou até a mesa onde eu estava sentada pouco tempo atrás.

- Que saudade o que, mané - ri - Não tenho motivos pra ficar com saudades de você.

- Magoou meus sentimentos - fez outro beicinho, mas depois riu.

//

Acordei sendo cutucada por uma pessoa que eu considero estar morta.

- Me deeeixa dormir, idiota - resmunguei colocando um travesseiro em cima da cabeça.

- Acorda senão a comida vai esfriar.

Opa, comida!

- Cadê? Onde? - pulei da cama e encontrei o Daniel rindo que nem um gay retardado.

Olhei em volta do quarto e procurei alguma coisa que fosse comestível, mas não achei nada.

Fuzilei o Daniel que ainda se encontrava rindo. Peguei o primeiro objeto que estava no criado mudo e lancei contra a cara dele.

- Ai! Hey, nanica, é melhor você tomar mais cuidado com as coisas que você joga - ele disse pegando o meu...

- MEU CELULAR! Olha o que você fez seu animal!

- Mas eu não fiz nada! - ele rendeu os braços.

- Oh meu deus. Você está bem meu bebê?

- Ah... Eu tô sim - o Daniel intrometido disse.

- Não estou falando com você, seu palhaço - revirei os olhos e acariciei o ecrã do meu celular que ainda não tinha quebrado.

- Só te acordei para você ler a redação que eu terminei. Sua chata. Depois que ler não me chame de gay - ele disse e eu fiz uma cara de confusa.

Peguei o papel e comecei a ler este.

"Cuidar de Alyce foi o primeiro passo para que houvesse algum tipo de afeto entre mim e a Angell. A boneca nos ensinou que não é tão fácil cuidar de um bebê humano e nem mesmo de um que foi feito por uma fábrica ou sabe Deus onde foi criada... Também nos ensinou muitas coisas como trocar fraldas e fazer com que parasse de chorar. Mas também não ensinou quase tudo, e eu não reclamo. Cuidar dela exigiu paciência, cuidado, carinho e mais outras coisas que eu poderia citar, mas levaria anos. Enfim, cuidar da boneca foi uma experiência muito boa para nós".

Terminei de ler e olhei para o Dani que aguardava uma resposta minha.

- Aw, seu gay! - andei até ele abraçando-o e recebendo outro abraço brincalhão.

- Sabia que você iria me chamar de gay. Fedida - ele disse e eu soltei uma gargalhada.

- Não sou fedida! - argumentei e ele cheirou o meu pescoço.

- Tem razão - riu e desfez o abraço.

Olhei para o Daniel por uns segundos. Dei um tapa na cara dele.

- Idiota - caminhei para o banheiro apressadamente e fechei a porta deslizando sobre a mesma.

Fechei os olhos e bufei em frustração.

Não, Angell idiota.

Você não vai se apaixonar por outro idiota do Dani.

Será?

Eu acho que você está quebrando a sua regra.

Qual?

Se apaixonar por alguém.

Ah.. Você acha?

Se eu estou falando, sua burra.

Você sempre acaba com o clima. Aff.

Meu subconsciente ia responder quando alguém bateu na porta.

- Ahm... Angell? Está tudo bem? - a voz masculina que eu apreciava questionou.

- E-estou. Espera só um minuto - falei atrapalhadamente e me levantei do chão.

Nunca estive tão nervosa assim para falar com alguma pessoa.

Qual é? Essa não é a Angell que eu conheço, não mesmo.

Respirei fundo e abri a porta do banheiro.

Me sinto como a Beyoncé abrindo um show. Só que no caso: saindo do banheiro.

Empolgante!

- Que foi? - perguntei fazendo um coque.

- Você é bipolar? - debochou o Daniel. Revirei os olhos e me sentei na cama.

Meu celular vibrou outra vez e eu peguei-o desbloqueando o mesmo e vendo o ícone de mensagens do lado esquerdo do ecrã.

galinha com herpes na cara (Anne)

18h42: Oi, Angell! Será que poderíamos conversar?

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~morgan

AngellOnde histórias criam vida. Descubra agora