Capítulo 1

133 13 5
                                    

Caos. É a palavra que pode definir mais fielmente o que está acontecendo agora.

A troca de sala é algo rápido. Às vezes, precisamos pegar materiais extras nos armários, o que nos atrasa um ou dois minutos, mas dessa vez não foi necessário.

Eu e Hyelim tínhamos acabado de assistir a aula de sociologia, e sem enrolação juntamos nossas coisas e saímos rumo a próxima. Hyelim ria do seu próprio comentário sobre como o professor falou de Durkheim. Foi realmente engraçado, mas ver a boba rir do próprio comentário era bem mais!

Nossa risada se perdeu quando uma gritaria no fim do corredor começou. Eram gritos altos de, talvez, sete pessoas.

Estudo nessa escola há tempo suficiente para saber que os gritos não são incomuns. Eu sei muito bem que, em dias de jogo, o time de handebol faz um desfile por toda escola com banda, líderes de torcida e apitos. Um grande cortejo atrás dos jogadores. Por ser algo que não passa despercebido e que é de um tremendo incômodo para algumas pessoas, eu também sei que hoje não é quinta-feira. Então, não é dia de cortejo.

Se esses gritos altos e desesperados não são dos alunos empolgados com handebol, não pode ser coisa boa.

— Vem! — Hyelim parece ter seguido minha linha de raciocínio. Segurou minha mão com força, e me puxou até a sala mais próxima. Eu estava distraída, esperando qualquer sinal no fim do corredor. Com a urgência de Hyelim, acabei deixando os livros que carregava caírem pelo chão, algo que ela também fez, propositalmente. Os livros não são tão importantes quanto a nossa segurança.

Mas que gritos são esses? Que tipo de merda pode estar acontecendo em Carter Hill High School?

— Entre, Josephine!­ — ela me empurrou sala adentro, entrou e fechou a porta em seguida. Me curvei para olhar através do pequeno vidro na lateral da madeira e consegui assistir a correria. Pareciam apavorados, olhavam assustados para trás, gritando e logo voltavam a correr. Do que eles estão correndo? O que está acontecendo?

Me assustei com mais um grito estridente, e cedi ao toque de minha amiga, que segurando minha mão, me puxou para sentar ao seu lado no chão. Hyelim rapidamente esticou o braço para cima e apagou a luz da sala, nos deixando iluminadas apenas pelo sol que entrava pela janela do outro lado da sala, e voltou a sentar colada a mim.

— Vai ficar tudo bem! — sussurrou Hyelim, tendo meus olhos confusos na sua cola. Ela não se importou com minha testa franzida, apenas se virou para frente.

Não é fácil conhecer alguém a ponto de entendê-la em seus mínimos atos, mas quando se convive com esse alguém há oito anos, você aprende alguns significados. Hyelim está se forçando a ser racional para manter a calma, mas está aflita, visivelmente preocupada.

Respirei fundo antes de a copiar. Tirei minha atenção dela e me virei para frente, ia descansar meu pescoço encostando a cabeça na porta, mas percebi que não estávamos sozinhas.

Carter Hill é uma cidade pequena e, como em toda boa cidade pequena, todo mundo acaba, eventualmente, se conhecendo. Seja de forma natural e educada, ou por fofoca.

Lá estava o notório xerife do condado de Carter Hill, Dener, agachado no centro da sala entre as carteiras levemente bagunçadas, com uma mão no chão, e a outra levava seu dedo indicador à frente da boca envolta pela barba. O homem sério não moveu nenhum outro músculo. Permaneceu como uma estátua dentro do seu uniforme velho estranhamente bem combinado. O brilhante broche-distintivo roubava a atenção da jaqueta marrom por cima da triste blusa social preta, assim como o solto pano marrom da calça dobrava em suas pernas e acabavam em um par horrível de botas pretas. Apenas senti falta do seu inseparável chapéu de cowboy.

DEVIROnde histórias criam vida. Descubra agora