Não tinha nada aparente no dedo de Seth, nada que eu pudesse ver a certa distância, mas algo me diz que é uma dor mais emocional do que física.
Parte de mim não consegue evitar se sentir um pouco culpada até porque, de certa forma, eu tive sim uma parcela de culpa.
— Desculpa — minha boca patética soltou, baixo, e eu desejei que ele não tivesse ouvido.
— Foi você que começou tudo isso?
— Não, mas eu estava sendo egoísta — eu me expliquei. — Você quer falar sobre isso?
— Definitivamente não! Vamos comer! — Seth rapidamente levantou do chão, vindo ao meu encontro na porta.
— Eu estou descalça, preciso dos meus calçados...
— Te vejo no refeitório então!
E assim nos separamos.
Antes mesmo de entrar no vestiário, eu ouvi o barulho do chuveiro ligado. Algumas gotas de água batendo contra o azulejo e outras abafadas contra a pele de alguém.
Mas quem quer que seja, está em uma cabine. Eu posso muito bem entrar, pegar meu tênis e sair tranquilamente...
— Oi, é a Josephine! — eu anunciei, já entrando. — Eu só preciso pegar meu tênis! Prometo ficar com os olhos fechados enquanto isso!
Eu exagerei, claro, mas não completamente. Cumpri parte da promessa ficando com os olhos no chão até o meio do caminho. Até o banheiro ser preenchido pela risada de Lucy e seu eco.
Merda.
Eu paralisei. Cuidadosamente, eu procurei mais sinais que comprovam que não é um delírio da minha imaginação e um montinho de roupas em uma pia distante o fez. A jaqueta. É Lucy.
Merda. Merda.
Pera! Porque eu fiquei nervosa? Credo, quanta perversidade, Josephine!
— Tudo bem! Meu banheiro é seu banheiro também! — ela respondeu entre curtas e baixas risadas. As quais eu ouvi muito bem, observando que o chuveiro fora desligado.
Merda. Merda. Merda.
Os tênis. Os tênis!
— Já peguei! — eu anunciei assim que o fiz. — E já estou de saída!
De fato, eu estava evitando usar toda minha visão periférica, não queria ser inconveniente se, por acaso, Lucy preferisse tomar banho com a porta da cabina aberta. Mas a enorme parede espelhada me assustou como se fosse um monstrengo.
Céus!
Por sorte, Lucy não prefere tomar banho com a porta da cabine aberta. Ou azar.
Credo! Pervertida, Josephine!
— Josie? Tudo bem aí? — ela se preocupou. Merda. Eu devo ter emitido algum resmungo com o susto.
— É- é — eu gaguejei. — Sim! Sim! Tudo bem! Eu só me assustei!
— Tem certeza? — Lucy insistiu.
— Tenho! Claro! — eu reforcei, até demais. — Estou saindo!
— Espera! — ela gritou. — Josephine?
Merda! Eu mal havia tocado no trinco!
— Eu — eu respondi com a garganta seca. Torcendo mentalmente para que ela falasse de uma vez.
— Como você se secou depois do banho, se não temos toalhas?
Meu cérebro pareceu descomprimir, aliviado. Ela fez uma pergunta inocente, Josephine! Pelo amor de Deus!
![](https://img.wattpad.com/cover/270442861-288-k589648.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
DEVIR
Teen FictionDE.VIR [S.M] 1. Constante mudança. Vir a ser. Tornar-se. 2. Lei geral do universo, que cria, destrói, reconstrói e ensina. Eu li uma vez que o ser humano é desadaptado do mundo. E talvez seja mesmo, por isso está sempre no topo da cadeia. Vida ou m...