Capítulo 37

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Não tinha nada aparente no dedo de Seth, nada que eu pudesse ver a certa distância, mas algo me diz que é uma dor mais emocional do que física.

Parte de mim não consegue evitar se sentir um pouco culpada até porque, de certa forma, eu tive sim uma parcela de culpa.

— Desculpa — minha boca patética soltou, baixo, e eu desejei que ele não tivesse ouvido.

— Foi você que começou tudo isso?

— Não, mas eu estava sendo egoísta — eu me expliquei. — Você quer falar sobre isso?

— Definitivamente não! Vamos comer! — Seth rapidamente levantou do chão, vindo ao meu encontro na porta.

— Eu estou descalça, preciso dos meus calçados...

— Te vejo no refeitório então!

E assim nos separamos.

Antes mesmo de entrar no vestiário, eu ouvi o barulho do chuveiro ligado. Algumas gotas de água batendo contra o azulejo e outras abafadas contra a pele de alguém.

Mas quem quer que seja, está em uma cabine. Eu posso muito bem entrar, pegar meu tênis e sair tranquilamente...

— Oi, é a Josephine! — eu anunciei, já entrando. — Eu só preciso pegar meu tênis! Prometo ficar com os olhos fechados enquanto isso!

Eu exagerei, claro, mas não completamente. Cumpri parte da promessa ficando com os olhos no chão até o meio do caminho. Até o banheiro ser preenchido pela risada de Lucy e seu eco.

Merda.

Eu paralisei. Cuidadosamente, eu procurei mais sinais que comprovam que não é um delírio da minha imaginação e um montinho de roupas em uma pia distante o fez. A jaqueta. É Lucy.

Merda. Merda.

Pera! Porque eu fiquei nervosa? Credo, quanta perversidade, Josephine!

— Tudo bem! Meu banheiro é seu banheiro também! — ela respondeu entre curtas e baixas risadas. As quais eu ouvi muito bem, observando que o chuveiro fora desligado.

Merda. Merda. Merda.

Os tênis. Os tênis!

— Já peguei! — eu anunciei assim que o fiz. — E já estou de saída!

De fato, eu estava evitando usar toda minha visão periférica, não queria ser inconveniente se, por acaso, Lucy preferisse tomar banho com a porta da cabina aberta. Mas a enorme parede espelhada me assustou como se fosse um monstrengo.

Céus!

Por sorte, Lucy não prefere tomar banho com a porta da cabine aberta. Ou azar.

Credo! Pervertida, Josephine!

— Josie? Tudo bem aí? — ela se preocupou. Merda. Eu devo ter emitido algum resmungo com o susto.

— É- é — eu gaguejei. — Sim! Sim! Tudo bem! Eu só me assustei!

— Tem certeza? — Lucy insistiu.

— Tenho! Claro! — eu reforcei, até demais. — Estou saindo!

— Espera! — ela gritou. — Josephine?

Merda! Eu mal havia tocado no trinco!

— Eu — eu respondi com a garganta seca. Torcendo mentalmente para que ela falasse de uma vez.

— Como você se secou depois do banho, se não temos toalhas?

Meu cérebro pareceu descomprimir, aliviado. Ela fez uma pergunta inocente, Josephine! Pelo amor de Deus!

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