Capítulo 35

19 5 0
                                    

Minha mente envergonhada tentou borrar o que aconteceu em seguida, mas não conseguiu.

Eu passei o que pareceu uma hora nos braços do xerife, até que os impulsos do meu cérebro chegassem até meus músculos enfraquecidos e, quando isso finalmente aconteceu, eu percebi que só estávamos Dener e eu no andar de cima.

Ele não perguntou nada, sequer estranhou quando eu me levantei sozinha e peguei a lanterna do chão, pronta para andar até minha sala. O xerife ficou calado, pela primeira vez em muito tempo e, apesar da minha gratidão por isso, eu não havia esquecido de tudo o que acabara de acontecer entre ele e Dominic.

Mas o verdadeiro conforto me abraçou assim que eu deitei ao seu lado no chão duro e forrado por um fino lençol. Josh sabia que era eu e me abraçou mesmo dormindo.

A sala, apesar de estar escura, me permitiu sentir a falta de Yan. Ele não estava, mas a necessidade de levantar para procurá-lo também não, então eu fiquei.

Na verdade, meus olhos ficaram fixos no breu do teto. Muitas coisas passaram pela minha cabeça, tão depressa que eu mal consegui assimilá-las. Até o novo amanhecer.

Eu levantei junto com o sol, lentamente, para não acordar Josh tão cedo e saí pelos corredores naturalmente já iluminados.

Novo amanhecer? Eu não sinto nada novo, pelo contrário. Estou presa neste cansaço sem fim, ou ele é que está preso a mim, como um parasita faminto, se alimentando de toda minha energia.

Eu ignoro o frio que meus pés desprotegidos transmitem do chão para meus ossos e cruzo o refeitório, até, finalmente, pisar na terra úmida pela noite.

Eu respiro fundo, pronta para imaginar os sermões que Hyelim teria na ponta da língua, mas não. Nada. O cemitério improvisado embranqueceu tudo o que eu tinha na mente e, no lugar da paz que eu buscava, esbarrei em um desespero.

Um denso desespero, tal qual o que me banhou ontem. Merda. O dia de ontem acabou, deveria ter acabado! Essa angústia deveria ter acabado! Porque parece que nunca vai acabar?

— Lim — minha voz soou trêmula. — Eu achei que podia fazer isso. Achei que podia vir aqui, falar com você e imaginar você respondendo de volta, mas não posso! Eu não consigo! Eu preciso de você respondendo, Lim! De verdade! Preciso muito!

Eu funguei e, só então, percebi que já desabava em choro. O vento frio me congelou em pé, mas não o suficiente para me impedir de chorar.

— Como eu sou idiota, não é? — suspirei. — você diria "chorar não vai resolver, Josie, você tem que tomar as rédeas!"

Eu ri ao mentalmente idealizar que eu estava parecendo uma louca, vista por fora, mas continuei.

— Eu implicaria, você sabe como eu odeio lições óbvias de moral! Eu implicaria, dizendo que nem você segue seus próprios conselhos e você, sua cara de pau, diria que guarda junto os melhores conselhos e as melhores lições de moral exclusivamente para mim! E aí nós riríamos...

Eu tentei me recompor, engolir o choro com um sorriso triste.

— Talvez esteja na hora de pô-los em prática, não é? É que parece impossível, super fora do alcance.

Meu corpo implorava por pausas, para ventilar corretamente, e me forçava a ficar em silêncio por alguns segundos. Eu só não queria perder nenhum segundo a mais com ela.

— Eu tô encurralada, Lim. E não sei se tem para onde correr, não com essa merda no meu pescoço.

Eu respiro fundo. — "Limpa a cabeça e se concentra", é o que você diria, não é?

DEVIROnde histórias criam vida. Descubra agora