Eu não sei por quanto tempo estamos conversando, mas Lucy comeu o pão com geleia que deixei na maca e se instalou na mesma. Eu reclamei, claro, a doente sou eu, então, eu deveria estar deitada na maca.
— Você não está doente, Josephine! — ela afirmou, se sentando na maca e me encarando, dando start em um balançar de perna.
— Você é que não está! Logo, não deveria estar deitada na maca! — eu rebati.
Automaticamente, Lucy deixou de sorrir e eu odiei assistir essa mudança.
— Está doendo? — ela perguntou.
Estávamos distraídas! Precisava?
— Não — eu suspirei. — É uma queimadura, é apenas uma queimadura.
— Certo — Lucy concordou.
Eu aproveitei a pausa no assunto para me encostar no armário frio em frente à maca ocupada por Lucy, sem deixar de vê-la balançando uma das pernas.
— Eu não queria vir pedir desculpas — ela confessou de repente.
— Ah, não? Porquê?
— Seria educado vir e como eu já não fui muito educada mandando você ir se foder... — explicou ela e eu ri.
— Eu cheguei perto de mandar você ir se foder também, se quer saber!
— Eu fui idiota, aceitaria se você tivesse mandado — Lucy exclamou. — E, quando percebi que você tinha repetido o que eu disse, me senti ainda mais idiota.
— Está tudo bem, eu já tinha entendido — eu nem tinha terminado de falar e Lucy já começou a negar balançando a cabeça. — Você se ofereceu para ajudar com Josh, então levei isso como um pedido de desculpa, eu errei?
— Eu perdi ela — Lucy deu de ombros, suspirou e eu quase senti sua auto decepção, mas vi o nervosismo em seu emaranhar de dedos entre as pernas em movimento. — Eu perdi ela e o Dener ainda está lá fora.
Eu queria tranquilizá-la e dizer "ele sabe o que faz", mas seria mentira. Ele não sabe, ninguém sabe!
— Você se preocupa com ele, não é? — eu perguntei e, saindo da negação, Lucy levemente riu.
— É, ele é algum tipo ruim de boa imagem paternal... eu acho — ela não se importou com o quão, contraditoriamente, estranha essa frase foi, Lucy disse exatamente o que queria dizer. — Ou era. Eu não sei como vai ser daqui para frente.
A menina, rapidamente, deslizou a palma de uma das suas mãos na própria coxa e logo devolveu os cinco dedos para o emaranhado.
— Nadin me deu tudo, tudo mesmo! — ela voltou a contar. — Uma amiga, felicidade, razões, uma família. Tudo era graças a ela, tudo era sobre ela e agora?
— Eu sinto muito — eu repeti. — Mas parece que tem que ser sobre você agora.
Lucy ignorou minha fala. Talvez seja cedo demais.
— Eu acredito quando você diz que lá fora é muito fácil de achar que não é real e que é muito fácil desistir, porque aqui dentro já é! Começou assim que saímos daquela sala e só piorou! Parece que estamos presos dentro da porra de um videogame!
Não, Lucy, não estamos.
— O fato de Hyelim não estar aqui também me faz achar que não é real, eu entendo você, mas lá fora não dá para ser assim! — eu falei quase em uma respirada só e apenas percebi quando o ar me faltou. Lucy me ouvia atentamente, percebi que sua perna tinha parado de balançar e, claro, seus olhos pretos e fundos estavam estacionados na minha cara cansada, o que tanto me apressa quanto me reconforta.
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DEVIR
Teen FictionDE.VIR [S.M] 1. Constante mudança. Vir a ser. Tornar-se. 2. Lei geral do universo, que cria, destrói, reconstrói e ensina. Eu li uma vez que o ser humano é desadaptado do mundo. E talvez seja mesmo, por isso está sempre no topo da cadeia. Vida ou m...