Capítulo 18

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Eu não sei por quanto tempo estamos conversando, mas Lucy comeu o pão com geleia que deixei na maca e se instalou na mesma. Eu reclamei, claro, a doente sou eu, então, eu deveria estar deitada na maca.

— Você não está doente, Josephine! — ela afirmou, se sentando na maca e me encarando, dando start em um balançar de perna.

— Você é que não está! Logo, não deveria estar deitada na maca! — eu rebati.

Automaticamente, Lucy deixou de sorrir e eu odiei assistir essa mudança.

— Está doendo? — ela perguntou.

Estávamos distraídas! Precisava?

— Não — eu suspirei. — É uma queimadura, é apenas uma queimadura.

— Certo — Lucy concordou.

Eu aproveitei a pausa no assunto para me encostar no armário frio em frente à maca ocupada por Lucy, sem deixar de vê-la balançando uma das pernas.

— Eu não queria vir pedir desculpas — ela confessou de repente.

— Ah, não? Porquê?

— Seria educado vir e como eu já não fui muito educada mandando você ir se foder... — explicou ela e eu ri.

— Eu cheguei perto de mandar você ir se foder também, se quer saber!

— Eu fui idiota, aceitaria se você tivesse mandado — Lucy exclamou. — E, quando percebi que você tinha repetido o que eu disse, me senti ainda mais idiota.

— Está tudo bem, eu já tinha entendido — eu nem tinha terminado de falar e Lucy já começou a negar balançando a cabeça. — Você se ofereceu para ajudar com Josh, então levei isso como um pedido de desculpa, eu errei?

— Eu perdi ela — Lucy deu de ombros, suspirou e eu quase senti sua auto decepção, mas vi o nervosismo em seu emaranhar de dedos entre as pernas em movimento. — Eu perdi ela e o Dener ainda está lá fora.

Eu queria tranquilizá-la e dizer "ele sabe o que faz", mas seria mentira. Ele não sabe, ninguém sabe!

— Você se preocupa com ele, não é? — eu perguntei e, saindo da negação, Lucy levemente riu.

— É, ele é algum tipo ruim de boa imagem paternal... eu acho — ela não se importou com o quão, contraditoriamente, estranha essa frase foi, Lucy disse exatamente o que queria dizer. — Ou era. Eu não sei como vai ser daqui para frente.

A menina, rapidamente, deslizou a palma de uma das suas mãos na própria coxa e logo devolveu os cinco dedos para o emaranhado.

— Nadin me deu tudo, tudo mesmo! — ela voltou a contar. — Uma amiga, felicidade, razões, uma família. Tudo era graças a ela, tudo era sobre ela e agora?

— Eu sinto muito — eu repeti. — Mas parece que tem que ser sobre você agora.

Lucy ignorou minha fala. Talvez seja cedo demais.

— Eu acredito quando você diz que lá fora é muito fácil de achar que não é real e que é muito fácil desistir, porque aqui dentro já é! Começou assim que saímos daquela sala e só piorou! Parece que estamos presos dentro da porra de um videogame!

Não, Lucy, não estamos.

— O fato de Hyelim não estar aqui também me faz achar que não é real, eu entendo você, mas lá fora não dá para ser assim! — eu falei quase em uma respirada só e apenas percebi quando o ar me faltou. Lucy me ouvia atentamente, percebi que sua perna tinha parado de balançar e, claro, seus olhos pretos e fundos estavam estacionados na minha cara cansada, o que tanto me apressa quanto me reconforta.

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