Capítulo 45

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E quando eu percebi a quantidade absurda de sangue que escorria pela minha mão, eu desejei profundamente não ter o feito.

Pelo menos dessa vez, o sangue é meu.

— Merda... — minha garganta seca murmurou.

Não é um corte de partir a mão, como eu mesma já fiz com alguns monstrengos, mas o sangue que corria escuro e se misturava com o breu do corredor, mostrava que não era nada raso.

— MERDA! — Seth assustou quando, finalmente, desceu os olhos azuis brilhantes para a minha mão.

Se não fosse a agonia da dor dominando todo o meu cérebro, eu pararia para observar que Seth não tem mais sido aquele de quando nos trombávamos nesses mesmos corredores antes do dia do caos.

Para quem parecia absorto e entediado, Seth está definitivamente diferente. Mas quem não está, não é?

— JOSIE!

Meus pensamentos se dissipam com o bradar de Yan e lá estava meu melhor amigo, me olhando incrédulo, sem paciência e, talvez, um pouco assustado.

Eu me sentia um pouco distraída com o quanto minha mão latejava. Será que os latejos são do sangue pulando para fora? É possível sentir isso?

— Para a enfermaria — pausadamente, Yan instruiu. — Você tem que ir para a enfermaria!

Sozinha? Não! Como eu vou lidar com isso sozinha? É grande, diagonal e... merda. Eu mal consigo ver além do sangue!

— Para de olhar! — Yan me repreendeu. — Vamos!

Ele apoiou uma mão nas minhas costas, na expectativa de me conduzir até a enfermaria, mas eu rapidamente desviei apenas para pegar minhas facas do chão e, confesso, me surpreender ao segurá-las em uma mão só.

Seth aproveitou para recolher sua maldita faca do chão e, com sua lanterna, nos guiou até a enfermaria.

Ele sequer costuma usar facas! Por que raios logo hoje? Azar do caralho!

Todos nós entramos afobados na pequena sala. Yan arrancou a grande mochila das costas e ligou a luz sem pensar duas vezes.

Ele ligou a luz?

Eu larguei as facas que segurava em apenas uma mão e, com dificuldade, também tirei a mochila pesada dos ombros.

— É fundo — analisou ele. — Muito sangue.

— Porra... eu nem tinha reparado! — eu sussurrei entre gemidos doloridos.

— E você sabe o que fazer? — Seth questionou Yan, imóvel ainda perto da porta que, mesmo fechada, deixava fachos de luz escapar pelo vidro quebrado.

Yan não respondeu. Calado e de pressa, ele me arrastou para a pia no canto.

— Eu posso fazer com algodão, mas vai ser dolorido e demorado... — ele se pôs a explicar, mas

— Yan, faça o que tem que fazer logo, por favor!

E eu nunca poderia ter pedido algo mais burro.

Meu amigo, termo que eu devo repensar ao me referir a ele, ligou o jato de água diretamente na minha mão ensangüentada.

A pressão da água, apesar de expulsar o sangue que saia em excesso, bateu como fogo. Uma sensação que parecia alcançar meus ossos.

Eu pressionei a boca, engolindo um grito que estava na ponta da língua, mas a água avermelhada correndo pela clara cerâmica me levou novamente para o chuveiro e em consequência, para o escorregador.

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