Capítulo 23

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Eu não precisei fazer nada, senão esperar. De camarote, eu apenas ouvi os gemidos, os estouros dos tiros e os berros de Dener. Não contei por quanto tempo meus ouvidos ficaram abafados, mas não esperei mais que o necessário.

Assim que os tiros cessaram por completo, eu corri, pulando os corpos.

— Yan Walsh, você tem talento, garoto! — eu ouço o eco do xerife pelo ginásio.

Mas antes que eu conseguisse passar por todos os corpos caídos no chão, eu senti meu calcanhar ser agarrado.

Desprevenida, eu perdi o equilíbrio e esperei pelo impacto do chão, mas não existia espaço entre os corpos, que acabaram recebendo meu peso.

Sentindo a mão fria puxar meu tornozelo, eu me desesperei.

— SOLTA — eu gritei, puxando minha perna de volta.

Mas é uma criança. Um menininho com o rosto cinzento e a boca ensanguentada estava tentando morder o meu pé. Exatamente como fizeram com o Sr. Perkins e, eu não acho que o tênis protegeria minha pele da força que essas coisas tem na mandíbula.

Ainda desesperada, eu continuei puxando meu pé, balançando, tentando me livrar do aperto frio que atravessava o tecido grosso do tênis, mas não adiantava!

Então, eu empurrei. Sem mira, sem jeito, com raiva por não ter meu irmão comigo, com nojo da mão dura e gelada, com medo dos dentes perto demais, eu apenas empurrei meu pé na direção do rosto pálido.

O ginásio, agora em silêncio, deu volume para o eco do estalo, que me fez levantar assustada.

O pescoço. Eu quebrei o pescoço.

Em pé, livre de qualquer contato cadavérico, eu parei para olhá-lo.

E eu congelei quando, mesmo com sua cabeça virada para o outro lado do ginásio, eu pude ver seus olhos ainda abertos e piscando, pude ver sua boca ainda mexendo e gemendo.

Mas seu corpo estava petrificado, completamente inerte, ele tinha sido abruptamente e internamente desconectado da cabeça.

— JOSEPHINE — eu me assustei com o chamar preocupado de Yan e percebi a faca ainda na minha mão ao apertá-la. — Você está bem? Se machucou?

Eu não pensei direito, muito menos formulei uma resposta decente, eu apenas balancei a cabeça e me coloquei a correr para fora dali.

— JOSH! JOSH!

O corredor principal estava vazio, então me apressei a gritar pelo meu irmão nos secundários.

— JOSH!

No último corredor, para variar, eu me assustei. Ao olhar rápido, eu achei que a única sombra presente era Josh, mas, não.

Um monstrengo que, mancando e grunhindo, se aproximou de mim. Eu deixei, não dei para trás, pelo contrário, eu avancei até ele também. Porque, se ele não é Josh, eu aposto um dedo que ele sabe onde Josh está.

— Cadê meu irmão, seu filho da puta?

Estúpida, eu sei. Eles falam quando querem, talvez, quando o cérebro sem querer impulsiona e, obviamente, a resposta que eu tive foram grunhidos.

O monstrengo, um pouco mais alto que eu, ergueu as mãos, tentando agarrar meu braço, mas eu o atrasei com um empurrão. Quem é o estupido agora?

— Cadê meu irmão? CADÊ MEU IRMÃO?

Nada. Apenas cambaleios, investidas, gemidos e mãos.

— Qual é! Só fale! Você sabe como, então, fale!

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