A madrugada ainda estava fria e o sol parecia longe de nascer.
Três pessoas morreram; três dos nossos, três sobreviventes, três colegas de escola. Três.
No meio de todo o confuso desespero, James foi mordido, teve parte do seu antebraço arrancado, mas estava aguentando.
Nós o levamos para a sala mais próxima enquanto ele estancava seu sangue com a própria camisa e eu o agarrei antes que cedesse ao chão, tentando ajudar.
Eu não queria ser pessimista, ignorei qualquer pensamento lógico e apenas me concentrei em pressionar seu machucado.
James começou resistindo bem, mas, alguns segundos depois, ele se inquietou, passou a se contorcer como se todo o seu corpo doesse. Eu estava assustada com o sangue tomando todo o tecido que eu segurava, meu corpo estava ficando frio como o de James, perdendo a cor.
O menino, em agonia, por diversas vezes tentou falar, mas tudo que conseguia eram gemidos.
Nós não éramos os únicos na sala, Ava sussurrava suas preces não muito distante. Yan havia me ajudado a amparar James, antes de perceber que não adiantaria, depois, sutilmente se afastou, auxiliando apenas com uma fraca lanterna que não tive tempo para identificar.
Haven, também distante, se desesperou quando as pálpebras de James ficaram pesadas e seus gemidos passaram a se arrastar, virando balbucios. Ele estava indo. Eu não estava conseguindo, eu não estava fazendo certo!
Por favor! Por favor!
Eu senti o desespero borbulhar para fora do meu corpo, como o sangue de James fazia com minha pressão.
O que eu devo fazer? O que eu devo fazer?
Meu medo me inebriou e, por um segundo, eu fiquei imersa em um silêncio que, na realidade, não existia. Logo, passos fortes e apressados ecoaram pelo corredor, acompanhados de um burburinho desorganizado que ficava cada vez mais próximo.
Eu fui arrancada de James tão rápido quanto Dener invadiu a sala. O homem tinha adrenalina saltando pelas veias do pescoço e, desajeitadamente, me colocou para o lado com apenas uma mão rodeando meu braço.
Eu não tive força para protestar contra seu toque brusco e, muito menos, tive tempo para questionar o que vi em um borrão preto na sua mão agora livre.
A luminosidade era baixa, apenas o mínimo vindo de Yan, mas minha vista rapidamente se embasou em raiva ao ver James sem apoio no chão. E, sinceramente, eu gostaria que tivesse continuado embasada.
Uma pistola estendida, encaixada a um silenciador, era o que o xerife tinha em mãos. Eu me assustei ao perceber que é exatamente como as que passavam na televisão e, mais ainda, ao entender o cilindro mirado em James.
Foram segundos torturantes, que passaram como um filme diante de mim, uma estátua inútil.
Dener não exitou, nem por um segundo, ele pestanejou; estava decidido. E, um rápido estampido estourou, sendo seguido por um rápido ruído abafado.
Meus olhos chegaram a tempo apenas para ver o sangue se espalhando pelo chão, ao redor da cabeça de James, caído sem vida.
Parte de mim pensou que o xerife não o faria; parte de mim implorou para que ele não o fizesse.
— DENER — o grito de Haven substituiu o eco que se arrastara na sala, mas não o de minha cabeça.
Ele fez. Ele atirou. Dener. Atirou. Em. James.
Uma onda de vozes misturadas e estridentes inundaram a pequena sala, pessoas, que eu sequer havia notado, questionando a atitude do xerife. Eles ainda não haviam entendido?
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DEVIR
Teen FictionDE.VIR [S.M] 1. Constante mudança. Vir a ser. Tornar-se. 2. Lei geral do universo, que cria, destrói, reconstrói e ensina. Eu li uma vez que o ser humano é desadaptado do mundo. E talvez seja mesmo, por isso está sempre no topo da cadeia. Vida ou m...