Capítulo 29

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Certo, era ela.

Eu não demorei para entender isso, mas qual a relevância dessa informação?

— Certo — eu disse, quase demonstrando minha confusão, ao tirar o garfo da boca.

Mas Lucy sequer piscou em incredulidade. Ela franziu as sobrancelhas e virou o rosto, pressionando os lábios.

— O quê? — eu não segurei a pergunta. — O que você quer dizer, Lucy?

— Eu acordei com gritos, Josephine! — Lucy esbravejou. — Com os seus gritos!

— Certo! — eu rebati. — O que você quer? Um pedido de desculpa? Eu não gritei porque quis!

— Não! — a menina, ofendida, soltou o garfo na borda do prato, o deixando bater em um som irritantemente curto. — Não! Não é isso! Eu quero dizer que eu também senti, Josie! Eu estava desesperada também!

Estava? Por quê?

Eu respirei fundo. Não tenho dúvidas do senso empático de Lucy, mas é diferente.

— Não mais que eu — eu comento, soando um pouco mais ácido do que na minha cabeça e completo: — Enfim, isso não importa mais, Lucy.

— Não importa mais? Não importa mais? — ela repetiu pausadamente. — Merda, Josephine! Eu não consigo tirar isso da minha cabeça!

Ouvir cada frase dita foi como ver um termômetro esquentando. O que aconteceu deixa Lucy nitidamente irritada, mas por quê? POR QUÊ?

— Então o que você quer que eu faça? — eu esbravejei. — Quer que eu peça desculpas? Quer que eu agradeça por ter ficado na sala? O quê? O que você quer que eu faça?

— Nada! Não! Não me agradeça! Eu não deveria ter obedecido aquele pedido ridículo! — Lucy confessou, olhando para as próprias mãos sob o balcão.

Então é isso?

— Ah — eu suspirei. — Não?

Nossos humores estavam em sincronia; fui afetada pela irritação quase confessada de Lucy.

— Se tivesse saído, o que você acha que teria acontecido? — eu insisti. — Além de mais uma possível morte...

— Não me venha com essa de "possível morte", Josephine! Ou você acha que, depois de passarmos por esse monte de merda, nós vamos morrer? Agora? Depois de nadar a porra do oceano inteiro, você acha que nós vamos morrer na praia?

As possibilidades, ditas por ela como impossibilidades, não cabiam no tom crescente de sua voz, cheia de uma falsa verdade.

— E não foi o que aconteceu com Mary? — eu relembrei. — Com James?

— EU TERIA TE AJUDADO! — Lucy afirmou. Bingo. É isso.

Eu respirei fundo, sem me perder na respiração descompassada da menina ao meu lado.

— Bom, é o que você acha! — eu rebati.

Assim que eu fechei a boca, Lucy me encarou com as sobrancelhas erguidas, recebendo a frase lentamente e, lentamente, concordou com a cabeça.

Eu bufei. Inferno.

— Eu não sei o que se passa na sua cabeça, Lucy, mas você fez o que tinha que fazer!

— É — ela respondeu. — E isso é o que você acha.

Fomos bruscamente interrompidas quando a porta da frente abriu rapidamente, revelando um Yan e uma Haven entrando sem aviso prévio, com mochilas visivelmente cheias.

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