Capítulo 20

34 7 0
                                    

Estava acontecendo de novo. O monstrengo no ombro de Hyelim. A mordida. Tudo. De. Novo.

Lucy tentou usar o cabo da pá entre eles, tentou mantê-lo distante, mas era tarde.

Ela ainda chorava e resmungava usando uma força que não tinha mais. Não depois de cavar na areia úmida e pesada, não depois de desperdiçar tanta energia.

O monstrengo logo estava agarrado em seus braços, puxando-os para morder, enquanto Lucy o empurrava com a pá. Ela não ia conseguir, assim, não.

Ele não ia desistir e ela estava quase, antes mesmo do monstrengo aparecer.

Em um dos empurrões, Lucy virou ele de costas para mim; a oportunidade perfeita! E eu não ia deixar acontecer de novo.

Rapidamente, eu corri até onde eles estavam e agarrei sua gola, o empurrando de lado para o chão e assisti ele cambalear, caindo desajeitado, mas assim que se firmou sentado, o monstrengo começou a se esticar até nós.

Ele não ia parar, só tinha um jeito de fazer ele parar.

Lucy estava paralisada, tentando recuperar o ar perdido com o susto e ainda com a pá nas mãos, então, eu apenas roubei o objeto dela.

A única coisa presente nas minhas veias, além do sangue bombeando adrenalina a todo vapor, era a raiva. Raiva dessas coisas que reviraram a minha vida e tiraram de mim as pessoas mais importantes que eu tinha, raiva de Lucy por ter mexido onde não devia e raiva de mim por tê-la seguido.

Quando eu voltei a olhar o monstrengo, que se arrastava até meus pés, salivando pela minha perna, mais raiva me revirou o estômago.

Não é uma pessoa. Não é uma pessoa. Não é uma pessoa.

Eu não precisei repetir muito, logo ergui a pá no ar e a desci com toda minha força, deixando a concha bater contra a cabeça e eu agradeci quando ele caiu no chão com o crânio esmagado para o outro lado.

É assim que tem que ser, não é? É o que temos que fazer!

Eu continuei com a pá na mão e, ouvindo nossa tentativa conjunta de retomar o ar em nossos pulmões, eu recobrei parte da minha paciência, me apressando ao ver o sol descer ainda mais.

Eu suspirei, olhando para a imensidão mesclada entre um laranja e azul escurecido no céu e acabei achando um Dener de braços cruzados no topo do prédio, nos observando. Pela distância, eu não consigo enxergar sua expressão com clareza, mas posso sentir seu olhar julgador, o que me deixa desconfortável.

Eu tive que fazer. Não importa o que eu senti, certo?

— Entre — eu sooei mais autoritária do que queria e, sinceramente, eu não me importo. — Lucy, entre.

Ela ignorou, claro, e eu não sinto muita paciência para insistir, apenas para respirar fundo. Eu não sei o que Lucy estava pretendendo fazer, mas, para mim, parecia tortura.

— Ou fique — eu dei de ombros. — Você quem sabe.

Eu não ia sair sem ajeitar a bagunça que ela fez nos túmulos e, talvez, seria melhor se ela não visse, mas, por mais impaciente que eu esteja, não posso forçá-la a entrar. Então, eu comecei com ela assistindo mesmo.

Como eu, previamente, avisei, antes do primeiro toque da pá na areia, Lucy entrou. Simplesmente e lentamente saiu andando.

Eu respirei fundo mais uma vez, imaginando que ela queira se explicar, terminar o pedido de desculpas que começou, mas eu não seria uma boa ouvinte, não, agora. Não agora porque pouco me importa o que ela faz com o túmulo de Nadin, se é uma forma de superar, se torturar, ou qualquer outra coisa, eu não me importo!

DEVIROnde histórias criam vida. Descubra agora