Capítulo 4

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Dentre os murmúrios de choro e medo, alguém ignorou o gentil pedido de Dener para calar a boca.

— Pai nosso que estás no céu... Santificado seja o Vosso nome... Venha nós ao Vosso reino... — Ava Gardner não percebeu o intervalo silencioso dos tiros e, aos prantos, continuou sua oração que, assim como os tiros, tinham intervalos fungados.

O xerife a encarou, esperando que a menina de olhos fechados sentisse a repreensão sem ele precisar gastar saliva, mas de nada adiantou. Então, o homem respirou fundo o último resquício de ar da sua pequena paciência.

— Não é hora, Srta. Gardner!

Ele não gritaria com a filha do pastor se ainda temos chance de sair vivos, sabe que seria algo semelhante a atirar pedras na cruz.

Existe apenas uma igreja em Carter Hill, sim, é um cidade, realmente, pequena e parada no tempo. Mais especificamente no século X, onde a igreja andava de mãos dadas com o estado. Em Carter Hill, a igreja é comandada pelos Gardners há anos, desde que o mundo é mundo. É o negócio da família, uma "benção", sabe?

Todo domingo é um grande evento; o rebanho de crentes se amontoando na capela para ouvir as belas palavras do pastor Gardner. Confesso, ele é um bom palestrante, quando não está falando de si, da sua própria bondade, do seu casamento, das suas filhas, da sua vida perfeita e abençoada por Deus.

Eu vou à igreja mais pelos meus pais. Acredito em Deus, mas no meio de tantas possibilidades de quem Ele é e do que Ele fez, as pessoas começaram a acreditar arduamente de maneira seletiva, elas viam apenas o privilégio que Ele as daria no fim (passagem direta ao céu). Para mim é mais simples, Ele é bom, justo e paciente, entende que sou falha, mas quer que eu faça o bem. É sobre quem eu sou e o que faço AGORA, pensando no bem de TODOS, não sobre o que faço pensando em uma futura recompensa.

Ava Gardner é a mais nova das duas irmãs. As três meninas tiveram uma criação regrada e imersa na igreja, nasceram sendo as filhas do pastor, e vivem para isso. Sendo a única na escola, aqui, Ava é respeitada por isso e eu acredito que ela, realmente, goste, já que está sempre sorrindo, abraçando e falando com todos sobre o infinito amor que existe no mundo. Bem diferente de como ela está agora.

— Temos que orar! Nos perdoe, Pai, pois pecamos

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— Temos que orar! Nos perdoe, Pai, pois pecamos... — ela insistiu.

Ah, é e, se tem algo que Ava teme, com certeza, é ir para o inferno. Isso se já não estivermos nele.

— Não me importa! Ore silenciosamente, Gardner! — Dener urrou e ela, estranhamente, obedeceu, voltando a sua sequência de Pai Nosso em sussurros.

O tiroteio recomeçou, interrompendo a oração de Ava. Só pode ser coisa do cão mesmo. Mas, dessa vez, o som não vinha dos corredores, ele parecia vir do lado de fora do prédio, pela janela.

Minha teoria foi confirmada quando os tijolos logo ao nosso lado começaram a ser alvejados e eu congelei ao lembrar que Jonah também estava lá. Bom, um Jonah monstrengo, mas ainda Jonah.

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