EP 52

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Maratona 0710

BÁRBARA

C: Eu não recebi o e-mail do professor com as notas do trabalho, você recebeu? — Carol parou ao meu lado e levou um tempo para que eu notasse a sua presença.

B: Acho que recebi, sim. Não foi parar na sua caixa de spam?

C: Já verifiquei três vezes.

B: Pergunta para ele antes da aula, talvez mande de novo.

C: Estou com vergonha. Acho que não fui tão bem.

B: Então espera ele lançar no sistema.

C: Vai ser o jeito. Está tudo bem com você?

B: Está, sim. Por que não estaria?

C: Você está com uma cara estranha.

B: É impressão sua.

C: Está tudo bem com o seu anfitrião? Vocês se beijaram de novo?

B: Acho que nunca vou entender os homens.

C: O que aconteceu?

B: Achei que estivéssemos nos aproximando, criei expectativas de que fôssemos ter algo. Aí ele me chamou para sair ontem. Começou tudo bem. Ele me levou para almoçar no Sky Garden, e tudo estava perfeito, mas, em algum momento, tudo começou a desandar.

C: Ele disse algo?

B: Só sei que ele não gostou quando uma mulher disse que éramos uma família muito bonita.

C: Parece que ele tem medo de família. O que é estranho para alguém que tem um filho.

B: Ele perdeu os pais de um jeito trágico e, depois, a esposa. Família é algo delicado para ele.

Depois da faculdade, voltei para a Sky House de metrô. Desci na estação que ficava a duas quadras da mansão e segui caminhando sob a luz da lua e o vento do inverno que soprava a minha nuca, fazendo-me tremer.

Segui até o interior da casa e subi para o segundo andar, mas imaginei que Michael já estivesse dormindo e não iria incomodá-lo. Contudo, a luz do escritório do Victor estava acesa e me causou um certo estranhamento. Deveria seguir direto para o meu quarto, mas, como um inseto, fui atraída para ela.

Parei na porta e o vi de pé, encarando a lareira e segurando um copo de uísque.

B: Não vai dormir? — Deveria ficar calada, mas não consegui.

V: Bárbara, você já chegou. — Ele se virou para mim, mas não consegui ler direito a sua expressão. Não sabia o que esperar, e isso me deixava aflita.

B: Faz alguns minutos. Michael está bem?

V: Sim, dormindo.

B: Isso é bom. Talvez você devesse ir também. Trabalhar até tão tarde pode fazer mal.

V: Não estou com sono, e também não estou trabalhando. Acho que faz umas duas horas que eu estou só encarando o fogo.

B: Por quê?

V: Eu não sei.

B: Acho que sabe, sim. — Cruzei os braços e me apoiei no batente da porta.

V: Eu não queria que ela tivesse morrido. — Ele fungou. Estaria chorando?

B: Tenho certeza que não.

V: Mesmo assim, ela morreu.

B: Você não teve culpa.

V: É o que me dizem o tempo todo! Pensam que me ajudam, mas não ajudam. Porque não tem sensação pior no mundo do que saber que não se pôde fazer nada. Eu preferia ter falhado por ter feito alguma coisa do que por não ter feito nada.

Tirei as alças da mochila e deixei que ela caísse no chão antes de avançar para dentro do escritório e abraçá-lo. Peguei Victor completamente de surpresa e ele não retribui o meu abraço. Ficou com os braços estendidos para baixo e me encarou com uma expressão de poucos amigos.

B: Às vezes é mais fácil sofrer do que seguir em frente, e não o culpo por agir assim. Foi difícil e, provavelmente, dói muito.

V: Quem é você para dizer isso? — falou com um tom ríspido e pouco receptivo ao meu diálogo.

B: Eu não sou ninguém. Na verdade, sou só uma babá. Eu nunca perdi ninguém como você perdeu, nunca fui casada, nem tenho filhos, por mais que adore crianças. Não posso dizer que eu sei como você se sente, porque eu não sei. Só imagino que deva doer muito, como um buraco no peito, que você não sabe como o cobrir. Ou talvez até saiba, mas não tem a coragem necessária para fazer isso.

V: Eu não sou um covarde.

B: Sei que não. Por isso não usei essa palavra. — Tombei a minha cabeça no peito dele e quase podia sentir a aflição do seu peito em cada batida.

V: Está chateada comigo por causa de ontem?

B: Entendo os seus motivos.

V: Concorda com eles?

B: Acho que não cabe a mim decidir isso. Eu gosto de você. Iria ser bom se algo mais intenso acontecesse entre nós dois, mas posso entender se quiser encontrar outra pessoa. Você é um viúvo que passou por coisas que, espero, nunca passar. Só você vai saber o tempo certo para qualquer coisa. Por enquanto, ainda estou aqui. — Apertei os meus braços com mais força ao redor da sua cintura e ficamos assim por alguns minutos. Me soltei dele e dei um passo na direção da porta. — Vou deixar você ir dormir. Vou para o meu quarto, tentar dormir também.

Estava prestes a me afastar quando fui surpreendida pela mão firme dele segurando o meu pulso.

Se os capítulos estivessem do tamanho certo, já estaria no EP 81, mais como estou juntando para ficar maior está no 52

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