EP 59

14.7K 724 19
                                    

B: Vamos entrar, Michael. — Estendi a mão para o menino.

M: Passain.

B: Ele foi embora e está na hora de você almoçar.

M: Qué passain. — Fez bico.

B: Amanhã nós voltamos. Pode ser que ele esteja aqui. — Agitei a mão e, a contragosto, Michael a segurou.

Seguimos para o interior da mansão, enquanto eu não conseguia parar de pensar no pai dele.

VICTOR

Deixei a Alliance Cars após um longo dia de reuniões com os responsáveis das filiais europeias. A equipe de marketing havia definido novas estratégias que precisaríamos implantar ao longo do próximo mês.

Graças à chegada da Bárbara, eu havia voltado a me empolgar com os negócios e a me esforçar para que a minha empresa estivesse no seu melhor momento possível.

Estacionei meu carro na garagem da Sky House e caminhei rumo a entrada, indo direto até o quarto do meu filho. Havia chegado um pouco mais cedo e encontrei a Bárbara sentada com ele na poltrona enquanto o Michael apontava para os desenhos em um livro.

M: Chapel... chapeueilo...

B: Sim, Mick! Esse é o chapeleiro maluco.

V: Está lendo para ele Alice no País das Maravilhas? — Escorei na parede com os braços cruzados.

B: Ou tentando. Está muito mais interessado nas ilustrações do livro. Ele nem dormiu essa tarde de tão interessado que ficou nas figuras. Tentei fazê-lo dormir, mas o Michael não parava de apontar para o livro.

V: Ao menos ele vai dormir à noite inteira.

B: É o que esperamos. — Fechou o livro e deu um beijo no topo da cabeça do meu filho.

M: Chapeueilo... — Ele espremeu os lábios e tentou chorar, mas parou quando cruzei meu olhar com o seu, mantendo uma postura ameaçadora.

V: A Bárbara precisa ir para a faculdade agora. — Aproximei-me para pegar o meu filho do colo dela.

M: Bi!

B: Eu não posso ficar, Mick. Mas vou voltar logo. Amanhã continuamos lendo o livro. Vai com o papai.

A contragosto, Michael veio para o meu colo e deixou que a babá se levantasse.

Um calafrio me percorreu quando nossos braços se tocaram. Ele foi seguido de um calor e os olhos castanhos dela atraíram os meus. Senti uma vontade enorme de beijá-la e o teria feito se o Michael não estivesse entre nós.

B: Preciso ir. — Colocou uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha.

V: Boa aula.

B: Obrigada.

Era muito estranho ter que viver com dois impulsos tão distintos.

M: Papai! — Michael puxou minha gravata e percebi que estava olhando para o corredor vazio.

V: Oi, meu filho?

M: Chapeueilo.

V: Quer que eu continue lendo para você?

M: Qué.

V: Tudo bem. — Acomodei-o no meu colo e abri o livro, prosseguindo com a história:

“— Chapeleiro, você me acha louca? — perguntou Alice.

— Louca, louquinha! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são.”

Meu filho poderia ser pequeno demais para compreender o conteúdo daquele simples diálogo, porém para mim serviu como uma alfinetada. Eu precisava ser um pouco mais louco. Estava contendo demais os meus impulsos.

𝙊 𝘾𝙀𝙊 𝙑𝙄𝙐𝙑𝙊 𝙀 𝘼 𝘽𝘼𝘽𝘼Onde histórias criam vida. Descubra agora