Capítulo 49 - Fardos

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Estou encolhida no canto da sala, com a cabeça entre os joelhos.

A iluminação é fraca e apenas a TV ligada reflete alguns raios de luz.

O ambiente é familiar, mas não posso chamar de acolhedor. Conheço bem este lugar, cada canto dele e o pesadelo que se tornou para mim. Estou na casa de meus avós.

Escondo minha cabeça entre meus joelhos, enquanto choro baixo.

Eu quero minha mãe...

Eu quero minha casa...

Eu quero minha família...

Meus pedidos são inúteis. Eu sei disso. Ninguém me ouve. Ninguém me ver. Exceto ele. Ele sempre me encontra.

Tremo ouvindo os passos arrastados e a voz mansa que soava cordial ao me chamar, mas a essa altura eu já não sentia assim.

Eu não queria o responder, não queria que se aproximasse de mim.

— Não! — Peço desejando que isso o impeça, mas não adiantou. — Não! — Grito mais uma vez, erguendo os olhos para ver a imagem daquele senhor que se transforma em uma horripilante sombra de um monstro enorme à minha frente, mas ele não está sozinho... Outro... E mais outro monstro indistinguível surge.

Fecho os olhos reflexivamente e me abraço como proteção.

Eles são grandes... Eles são iguais... Eles me querem!

Seus rugidos aterrorizantes atravessam meus ouvidos fazendo todo meu corpo chacoalhar de medo, enquanto me cercam.

Eu preciso correr! Eu tenho que sair daqui!

Tento me erguer, mas meu corpo está dolorido e tudo que me resta é gritar por socorro enquanto sou encurralada por todos os lados.

Debato-me chamando forte por meu pai, mas isso não os assusta. Eles se divertem e escarnecem de mim. Suas gargalhadas se alimentam de meu desespero.

Ao longe, vejo a imagem de meu genitor que ignora minha súplica com olhar de desprezo.

— Pai! Por favor, pai! Não me deixe sozinha! — Imploro perdendo a luta. Eles me alcançam. Eles riem de mim, chamando por meu nome.

— Abra os olhos, Anália! — Ordenam enquanto suas mãos me prendem e imobilizam.

— Não!

— Anália! Anália!

— Não! — Solto um grito estridente, ainda mais forte, numa tentativa nula de os manter longe.

— Ane! Acorde, Ane! Olhe para mim!

Abro os olhos, me deparando com duas esferas verdes e arregaladas, à minha frente.

Encaro o rosto alarmado de Rafi que me mantém sentada, erguida pelos pulsos.

— Os monstros... Eles...

— Calma! Não há monstro nenhum! Você não está sozinha! — Me diz, enquanto me debato ainda atordoada.

Suas mãos me desprendem e se estendem para abraçar meu corpo, mas antes que conclua, ele hesita e se afasta.

— Desculpe — Ergue-se atordoado, soltando um palavrão.

— Que merda é essa, Anália!? Que diabos fizeram com você!? — Pergunta nervoso, dando-me as costas ao parar em frente a janela.

Observo sua mão apertar os olhos com força, enquanto seus ombros tremem, na penumbra da noite, mas não consigo emitir qualquer som. Minha língua parece paralisada pelo medo.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora