Capítulo 8 - Desconfianças

453 73 365
                                    

"The green eyes you're the one that I wanted to find"

(Olhos verdes, você é aquele que eu queria encontrar)

— Bom dia, Pequena Ane. Espero que tenha dormido bem. Quais seus planos para hoje? — Espreguiço-me na cama com um sorriso largo, quando leio sua mensagem ao acordar. Rafi me acalentava todas as manhãs e durante o dia, certificando-se de como eu estava. Não estou acostumada a isto, nunca alguém havia se preocupado e cuidado de mim desta forma. Desde a minha infância, estou habituada a minha autossuficiência. Ainda assim, não deixa de ser uma sensação agradável, e estou feliz por tê-lo em minha vida agora.

 Muito bem, porém não tanto como gostaria. Estou voltando às aulas.  Respondo satisfeita com minha noite de sono que agora tornaram-se melhores, e triste por minhas férias de inverno terem acabado. Anteriormente, tratavam-se de meses dolorosos para mim. Eu era obrigada a aceitar os fatos de como minha vida era vazia e solitária. Mesmo tendo amigos, cada um tinha seus próprios compromissos e família, por mais que me amassem, não deixávamos de ter um convívio breve. Não havia ninguém feliz com minha companhia, muito menos preocupado com minha saída, ou ansioso com minha chegada; eu era a única a importar-me com minha própria existência.

Estes eram os momentos em que deparava-me vagando pela casa vazia, imaginando como seria ter um lar, com criancinhas barulhentas correndo por ela, mas que logo voltariam até mim, ansiando por meu colo. Eu bem desejava que fosse em um lugar melhor, mas eu não sonharia tão alto. Com meu futuro salário após a minha formação, poderia reformar esta casa e deixá-la aceitável, este era o ponto mais fácil. O que mais me angustiava era cogitar o quanto seria difícil ter filhos, sendo eu incapaz de sentir e dar prazer a alguém, além do lar torto no qual eu cresci, tenho dúvidas se possuo uma boa base familiar para me tornar uma mãe apta para isto.

Porém, as últimas férias foram diferentes. Havia alguém ansioso por mim mesmo que a distância, dedicando-me grande parte de seu tempo, preocupado com todos os meus passos; alguém tão solitário quanto eu. Não sei ao certo qual seu objetivo comigo, mas desde o dia 12 junho, tornou-se minha principal companhia.

Não demora muito, e prontamente recebo sua mensagem. Era incrível como ele se mostrava sempre disponível, parecia saber quando eu precisava dele.

— Não sabia que retornava hoje, não teríamos conversando até tão tarde se eu estivesse ciente disto. Você precisa cuidar mais de seu sono. Tenha um bom dia. Avise-me quando chegar à faculdade.

Rio comigo mais uma vez, desfrutando deste agradável sentimento que ele me proporciona, enquanto aliso o pequeno espaço vazio em minha cama de solteiro, imaginando ele ao meu lado dando-me toda esta atenção pessoalmente.

Céus... Acho que estou me apaixonando por ele.

Isto é completamente novo para mim. Nunca imaginei que seria possível estabelecer uma conexão tão profunda à distância, com um estranho dos Estados Unidos que conhecera há apenas dois meses.

Mesmo sem conhecer muito a seu respeito, eu sei que ele é um homem bom. Reconheço que eu poderia estar precipitando-me e cometendo o mesmo erro como foi com Eduardo, mas tenho certeza de minha conclusão agora, não havia nada em Rafi que pudesse ser comparado ao meu "ex". Pelo contrário, ele nunca havia tentando avançar para algo sexual entre nós, mesmo com minhas investidas, falidas. Eu já havia tentando diversas táticas para provocá-lo, mas nada o fazia alterar sua postura irredutível. É vergonhoso minha incapacidade de seduzir alguém.

Não que eu busque as mesmas trocas de mensagem que aconteciam com Eduardo. Não! Isto é absolutamente fora de questão para mim. Eu apenas quero que ele verbalize todo o desejo que vejo em seus olhos, mas que por algum motivo ele reprime.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora