Capítulo 5 - Rafi

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Estou tensa para iniciar esta conversa. Ciente minha dificuldade de comunicação com desconhecidos, sei que fazê-lo com um completo estanho será muito mais difícil. As pessoas parecem perder o interesse fácil pelo que digo, por vezes enfatizam que falo muito baixo, e às vezes sinto que lhes incomodo com meu jeito comedido de me expressar. Talvez estejam certas quando dizem que penso demais. A verdade é que não sou nada interessante, talvez eu devesse tentar uma abordagem diferente, divertida, era assim que o Eduardo fazia.

Mesmo com a vantagem dele não poder ver-me gaguejando, sinto-me como se borbulhasse por dentro, nervosismo, vergonha, medo... Não sei. Talvez porque sinto dentro de mim que sua descrição possui um significado muito mais profundo. Esta observação me afugenta ao mesmo tempo que me instiga a conhecer-lhe mais.

Vá em frente, Anália. Você está segura.

 Olá. Como vai?

Bem. Feliz em estar falando com você. — Apesar da resposta falsa demais para um primeiro contato, permaneço no chat. Não tenho muitas opções de escolha. — E você, como está?

Mal

Muito bem, obrigada. Como tem sido sobreviver sem um perfil exibicionista aqui? As recepções anteriores que tive não foram muito agradáveis. — Tento sair da formalidade que iniciei.

— Não muito fácil. As pessoas estão bem exigentes.

Acho que ainda procuram os modelos atraentes usados nas propagandas do aplicativo, que logicamente nunca encontrarão aqui. — Falo em minha desesperada tentativa de parecer descontraída. Minhas mãos suam, e agradeço mentalmente por ele não poder as ver. — Deveria ser crime enganá-las desta maneira.

 Hahaha! Você me diverte!  Ufa... Surtiu o efeito esperado. Começo a relaxar. — Interessante saber que não é o que procura. — Prendo-me a esta ultima frase. Então ele estava preocupado isto? Logo começa a crescer o sentimento de empatia por ele, é horrível temer ser julgado pelas atribuições físicas.

 Absolutamente não.

 Conte-me mais sobre você, Anália.

 O que você deseja saber?

 Tudo.

Caramba! Acho que é demais para um recém-conhecido, mas me contento em seu interesse ser realmente em mim, e não no que tenho entre as pernas.

 Sou apenas uma garçonete e estudante universitária.

 Isto é tudo?

 Sim... Eu não tenho uma vida interessante.

 Por que não tem uma foto em seu perfil, Anália? Você se esconde? — Sua pergunta repentina me surpreende.

Me escondo?

 Não. — Respondo parcialmente irritada. Por que eu me esconderia? Reprimo esta pergunta para mim, tentando não parecer grosseira. Provavelmente me imagina como alguém mal-apessoada, e que este seria o motivo que me mantenho em oculto.

Então, o que te impede?  Puf... Parece que ele está mesmo preocupado com o que tem do outro lado. Estou cansada dos homens deste aplicativo. Havia me precipitado no pensamento anterior a seu respeito.

 Nada. Apenas não gosto de fotos, e nem de ser avaliada por elas. Acredito que nosso interior é muito mais interessante e revelador do que a aparência a mostra.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora