Capítulo 73 - Labéu

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É como se uma faca entrasse lentamente em meu peito e a dor é tão grande que por um segundo vejo meu redor girar, ao mesmo tempo que pareço assistir tudo em segundo plano. Estou sem reação e custo a acreditar no que ouvi, mas as palavras soam incessantemente em minha cabeça. As peças começam a se juntar e agora tudo faz sentido: sua mudança de humor, seu convite para jantar e a escolha do que eu deveria vestir. Tudo muito bem premeditado, para me arrastar a essa cama, de uma forma humilhante.

- Chega! - Ordeno e minha voz falha.

- O que? - Rafi murmura ainda colado em mim.

- Chega! Chega! Chega! - Vocifero lutando contra meu choro, reunindo toda dignidade que ainda tenho. - Tira suas mãos sujas de mim!

Minha boca treme, mas ainda tenho forças para gritar tão intensamente, que antes que eu conclua as últimas palavras, ele dá um pulo para fora da cama, se mantendo distante.

- Então é isso... - sussurro enquanto solto um riso silencioso, que logo é interrompido por um soluço. - Era só uma vingança... Que vergonha...

Ergo-me para sair da cama e me dou conta que ainda estou presa.

Tento levar minha mão direita ao pé, mas a corrente entre a algema de meu pescoço e punho, me impede. Insisto dessa vez tentando a erguer até minha garganta, mas agora a corrente em meu tornozelo não permite. Vejo por minha visão lateral ele se aproximar, mas o impeço.

- Não chega perto mim! - Grito e ele para.

- Anália, você está algemada.

- Pare de mencionar meu nome em sua boca imunda! Você é nojento, Rafi! Diabólico!

Minha respiração é tão dificultosa quanto a de um asmático em crise, mas me concentro em a acalmar para pensar em como sair daqui e decido por me deitar de lado, encolhendo minhas pernas. Desta forma, consigo desprender as algemas de meus punhos, depois dos pés e por último liberto meu pescoço.

Rapidamente, seco meu rosto e engulo as últimas lágrimas que ameaçavam sair. Não posso lhe dar esse sabor.

- Que vergonha, meu Deus! Que vergonha, que vergonha, que vergonha, que vergonha... - Murmuro, procurando coragem para sair daqui, tentando separar um dos lençóis e o enrolar em minha volta.

Seguro o tecido a minha frente de qualquer forma, e salto da cama.

Nem sei como consigo fazer isso, mas, jogando fora minha última gota de orgulho, ergo meus olhos e encaro seu rosto frio.

Eu estou com muita vergonha. Sinto meus olhos queimarem e não sei por quanto tempo resisto ser forte e segurar meu coração quebrado, mas há algo entalado em minha garganta que precisa ser dito.

- De todas as coisas que esperei de você, Rafi, essa foi a última que achei ser capaz. Você foi perverso e cruel. Está feliz agora?

- Não. Mas, eu precisava te deter. Fazer você parar de tramar às minhas costas e saber como é se sentir ser usado como eu fui.

Solto um riso nervoso, que faz meu corpo tremer. Olho no fundo dos seus olhos, mas não o reconheço mais. Sinto a adrenalina se apoderar de mim, fazendo-me perder a compostura e toda compaixão que alimentei por ele durante esses quase dois anos.

- Babaca! Imbecil! Beberrão! - Esbravejo ao passar por ele.

Embora em pedaços, saio do quarto a passos firmes. Eu quero fugir de seu campo de visão e nunca mais ser vista, mas o vejo de relance vestir as calças rapidamente e vir atrás de mim.

- O Colin tinha razão! Eu deveria ter o escutado! - Penso alto demais, e ele ouve.

- O Colin!? O que o Colin tem a ver com isso!?

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora