- Poderia relaxar esses olhos arregalados e perguntar de uma vez? - Rafi me confronta em tom sarcástico enquanto fazemos nossa demorada descida do último ao segundo andar desse arranha-céus, no silêncio do elevador.
Pisco algumas vezes constrangida. Não queria transparecer minhas inquietações, mas, considerando o mal-entendido que nos ocorreu hoje, tudo esta noite me intriga.
- Hum... Não estou usando nenhum disfarce.
- Não precisa mais, sua avó retirou o pedido de buscas.
- O que você fez com ela!? - Agarro seu braço enquanto meu coração parece partir no chão.
- Nada. Isso não é obra minha. - Resmunga com uma visível mudança de humor ao confessar a última parte.
Retiro minha mão de seu blazer, e olho novamente para ele, ainda sem conseguir afastar minha desconfiança.
- Por que faz isso?
- O que?
- Levando-me para jantar.
- Não gosta?
- Não tente desviar minha pergunta com outra. Se eu não gostasse não estaria aqui. Mas, isso me perturba desde a primeira vez.
Seus olhos ficam centrados nos números iluminados a nossa frente, enquanto um sorriso brota no canto de sua boca.
- Eu precisava afastar algumas mulheres.
- Quê? - Minha voz sai incrédula e levemente estridente. Sinto que transito entre a confusão e irritação, mas não consigo definir o porquê.
- Bem... Eu não sei como isso soa, mas, estava cansado de me esquivar todas as noites ou criar justificativas para não ceder a elas, quando até minha masculinidade era colocada em prova.
O encaro avaliando a veracidade do que diz, mas lembrando os olhos femininos que o devoravam quando pusemos os pés para fora do elevador, pressuponho que fala a verdade. Consto com pesar o que me incomoda nisso tudo: no fundo, alimentei expectativas de que era sobre mim, mas sempre foi sobre ele e preservação da "honra" de sua masculinidade. Como eu gostaria de poder chamá-lo de imbecil em alto e bom tom.
- Estou admirada ouvindo isso de você. Não pensei que fosse tão seletivo. - Falo por fim, tentando esconder minha frustração.
- Não é seletividade.
Suspira descansando as mãos nos bolsos da calça e eu o encaro ainda irritada.
- Por que não ficou com elas então?
- Por que eu teria que me livrar delas depois disso.
Arregalo os olhos enquanto as palavras parecem presas em minha garganta.
- Está me dizendo que você... Ma... Todas as mulheres... Você mat...
- Eu nunca precisei fazer isso. - Interrompe, tirando-me de meu martírio - Mas eu não costumo ficar com mulheres comuns. Muito menos em um lugar que sou visto frequentemente.
- O que quer dizer com "comuns"? Mulheres com beleza mediana à baixa pra você?
- Mulheres que se chocariam facilmente com a vida que levo, Anália. - Seu tom é divertido e o olhando de relance, percebo que parece sustentar o riso.
- Isso não é muito convincente. É apenas um convite momentâneo, não é como se fosse construir uma família com elas.
- Vocês são muito perspicazes e conseguem descobrir muito quando querem. Não vou arriscar alimentar interesse maior em alguém para que comece a me vasculhar. Eu agora vivo aqui, portanto, quanto menos atenção eu tiver sobre mim, melhor. É apenas por isso. E construir uma família sempre estará totalmente fora dos meus planos. - Enfatiza bem o que diz por último.
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Desejo Perigoso
Romantik. Um irresistível e benevolente homem, de presença marcante, capaz de cativar a primeira vista. Um misterioso recém-conhecido, envolto em culpas e dores vividas. Uma tímida e ingênua estudante universitária, presa em traumas e mágoas do...