Capítulo 69 - Inflexíveis

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- Poderia relaxar esses olhos arregalados e perguntar de uma vez? - Rafi me confronta em tom sarcástico enquanto fazemos nossa demorada descida do último ao segundo andar desse arranha-céus, no silêncio do elevador.

Pisco algumas vezes constrangida. Não queria transparecer minhas inquietações, mas, considerando o mal-entendido que nos ocorreu hoje, tudo esta noite me intriga.

- Hum... Não estou usando nenhum disfarce.

- Não precisa mais, sua avó retirou o pedido de buscas.

- O que você fez com ela!? - Agarro seu braço enquanto meu coração parece partir no chão.

- Nada. Isso não é obra minha. - Resmunga com uma visível mudança de humor ao confessar a última parte.

Retiro minha mão de seu blazer, e olho novamente para ele, ainda sem conseguir afastar minha desconfiança.

- Por que faz isso?

- O que?

- Levando-me para jantar.

- Não gosta?

- Não tente desviar minha pergunta com outra. Se eu não gostasse não estaria aqui. Mas, isso me perturba desde a primeira vez.

Seus olhos ficam centrados nos números iluminados a nossa frente, enquanto um sorriso brota no canto de sua boca.

- Eu precisava afastar algumas mulheres.

- Quê? - Minha voz sai incrédula e levemente estridente. Sinto que transito entre a confusão e irritação, mas não consigo definir o porquê.

- Bem... Eu não sei como isso soa, mas, estava cansado de me esquivar todas as noites ou criar justificativas para não ceder a elas, quando até minha masculinidade era colocada em prova.

O encaro avaliando a veracidade do que diz, mas lembrando os olhos femininos que o devoravam quando pusemos os pés para fora do elevador, pressuponho que fala a verdade. Consto com pesar o que me incomoda nisso tudo: no fundo, alimentei expectativas de que era sobre mim, mas sempre foi sobre ele e preservação da "honra" de sua masculinidade. Como eu gostaria de poder chamá-lo de imbecil em alto e bom tom.

- Estou admirada ouvindo isso de você. Não pensei que fosse tão seletivo. - Falo por fim, tentando esconder minha frustração.

- Não é seletividade.

Suspira descansando as mãos nos bolsos da calça e eu o encaro ainda irritada.

- Por que não ficou com elas então?

- Por que eu teria que me livrar delas depois disso.

Arregalo os olhos enquanto as palavras parecem presas em minha garganta.

- Está me dizendo que você... Ma... Todas as mulheres... Você mat...

- Eu nunca precisei fazer isso. - Interrompe, tirando-me de meu martírio - Mas eu não costumo ficar com mulheres comuns. Muito menos em um lugar que sou visto frequentemente.

- O que quer dizer com "comuns"? Mulheres com beleza mediana à baixa pra você?

- Mulheres que se chocariam facilmente com a vida que levo, Anália. - Seu tom é divertido e o olhando de relance, percebo que parece sustentar o riso.

- Isso não é muito convincente. É apenas um convite momentâneo, não é como se fosse construir uma família com elas.

- Vocês são muito perspicazes e conseguem descobrir muito quando querem. Não vou arriscar alimentar interesse maior em alguém para que comece a me vasculhar. Eu agora vivo aqui, portanto, quanto menos atenção eu tiver sobre mim, melhor. É apenas por isso. E construir uma família sempre estará totalmente fora dos meus planos. - Enfatiza bem o que diz por último.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora