Capítulo 14 - Imprevistos

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— Você não me pega! — Grito após depositar um beijo na bochecha de um colega de Bruno, vizinho nosso, e sair correndo de sua casa, rua afora. 

— Eca! Está pirralha me beijou de novo! — Xinga enquanto tenta me alcançar.

— Deixa, Lucas! Você sabe que ela gosta de te provocar com isso. — Meu irmão fala enquanto sorri vindo atrás de nós.

Não estava apaixonada por ele, mas era divertido irritá-lo daquela forma. Ele era extremamente revoltado por ter 1,40 metros aos doze anos, e isto piorava quando achava que uma garota de oito anos interessava-se nele.

Continuo correndo pelas ruas, ao mesmo tempo que gargalho alegremente devido à chuva que cai e adrenalina do momento. Aumento ainda mais o riso e decreto internamente batalha vencida ao avistar minha casa, ele perdeu dessa vez, fui mais rápida, mas, antes que eu consiga alcançar a porta, uma mão puxa minha blusa por trás.

— Te peguei, sua pentelha!  

— Ai! – Exclamo tendo meus passos abruptamente interrompidos, indo direto ao chão e o trazendo comigo.

— Anália! Entre, agora! — Meu pai surge na porta, me vendo caída na calçada junto ao vizinho. Olho-lhe receosa, temendo a repreensão que está por vir. — Já disse que não quero você agarrada com garotos! — Levanta-me com força pelo braço, me arrastando para dentro de casa.

— Pai — Bruno interrompe, nos alçando — Não foi nada, estávamos brincando.

— Cale a boca! Sabe que está proibido de ir à casa desse garoto! — Puxa-o pela orelha e o empurra com brutalidade para dentro fechando a porta, enquanto Bruno se contorce de dor.

— Mamãe! — corro a procura dela, a encontrando sentada no chão de seu quarto. — Mamãe, o papai vai nos bater! — Recebo seu olhar triste. — Mamãe? Você se machucou?

— Não foi nada, Anália. Apenas tropecei no tapete, e caí. — Levanta-se parecendo ter dificuldade. — Está tudo bem. — Diz com um sorriso fraco ao sentar-se na cama.

Quero abraçá-la, porém uma vibração próxima a minha cabeça, me interrompe. Abro os olhos, atordoada e olho lá fora pela janela o céu tão escuro quanto meu quarto, ainda chove. Retiro meu celular de baixo do meu travesseiro, Rafi me liga.

Escondo meu rosto no mesmo, não desejava vê-lo nem tão cedo, mas, considerando que são 2h da manhã, temo que seja urgente, não é habitual receber ligações dele durante a madrugada.

— Ane? — Procura-me com olhos preocupados — Como você está?

— Por que me ligou?

Ouço seu suspiro cansado, seguido de uma longa pausa sem resposta. — Precisava saber se você está bem. Desculpe por encerrar daquela maneira, não queria assustar você.

— Não precisamos mais falar sobre isto. — Respondo rápido tentando deletar a cena de horas atrás.

— Acenda a luz, me deixe ver você.

— Por quê?

— Porque eu preciso lhe ver, Ane. Por favor, prometo que serei breve.

Pondero por um momento, porém cedo a seu pedido, encolhendo-me na parede quando seus olhos me avaliam, ainda que eu não os veja, pois só consigo focar o chão.

— Esteve chorando?

— Não.

— Ane, diga a verdade, e olhe para mim. Sei que fui rude com você. — Fecho os olhos, ouvindo-o remeter mais uma vez o que eu quero esquecer, ao passo que um infeliz silêncio perdura entre nós, não consigo responder-lhe. — Ane... — Percebo a inquietação em sua voz grave que parece falhar por um momento. — Não quero que tenha medo de mim.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora