Capítulo 61 - Alucinação

118 16 26
                                    

Eu não quero o ajudar. Estou farta de ouvir seus xingamentos e desprezo, mesmo sabendo que sua consciência está alterada, sei que há verdade no que diz e embora não devesse, isso ainda me afeta.

Penso que talvez eu pudesse me informar se o hotel oferece atendimento para esse tipo de caso ou deveria chamar a emergência. No entanto, quando olho para trás, o vejo tentar se erguer novamente, apoiando-se no vidro da mesinha de centro que provavelmente não suportará seu peso, então percebo que não consigo abandoná-lo. Por mais carrasco que ele seja, há um resquício de bondade que o fez cuidar de mim por duas vezes quando eu estava no mesmo estado.

Como imaginei, ele não resiste e cai deitado sobre o carpete, levando a pobre mesa com ele, que por sorte, possui um vidro resistente que permaneceu intacto.

Respiro fundo e giro sobre meus pés para me aproximar, percebendo seus lábios levemente abertos enquanto seu rosto perde a cor.

Droga! Rafi esta vomitando e se engasgando com o próprio vômito!

Corro em sua direção e segurando sua cabeça, giro seu corpo para o piso, dando algumas tapas em suas costas para que desengasgue.

A visão e aroma não são os melhores, mas não saio do seu lado até que ele termine e erga os olhos verdes e avermelhados para mim.

- Terminou? - Pergunto enquanto ele parece ainda recobrar os sentidos e então faz um sim com a cabeça, soltando um gemido em seguida. - Venha. - Digo prendendo a respiração, enquanto ponho novamente seu braço direito sobre meu ombro e envolvo sua cintura, tomando cuidado para não tocar as partes sujas pelo vômito em sua roupa. Seu corpo parece quente, mais quente que o habitual.

- Ai minha cabeça... Minha cabeça está doendo. - Reclama enquanto eu faço um esforço quase sobre-humano para levantar seu corpo pesado.

- Eu sei, mas tente me ajudar um pouco, ok? Tente se apoiar em meu ombro.

Foi difícil até que nós dois conseguíssemos o equilíbrio, mas após uma luta árdua, consigo colocá-lo de pé.

Por alguns segundos, Rafi parece hipnotizado e olha demoradamente dentro dos meus olhos, de forma engraçada.

- Você me salvou.

- Quem diria, não? De maldita sem coração, para salvadora. - Falo erguendo meu queixo em sua direção, mas ele ri enquanto andamos a passos curtos.

- Você é uma gatinha muito atrevida - Diz apertando meu braço mais que o necessário. - E macia também.

- Não sou uma gata. Não é porque estou trancada aqui dentro que sou um animal de estimação.

- Mas parece com uma. Hum... Um bichinho inofensivo por fora... Mas muito... Muito esperta... - Conclui claudicando de um lado para o outro, se tornando mais pesado.

- Só você acha isso. Aliás, está se tornando mais difícil te carregar. Vamos! Me ajude!

- Eu não aguento minha cabeça... Está girando... Está tudo girando...

- Só mais um pouco, respire fundo, Rafi! Estamos chegando. - Peço temendo que ele tenha uma nova crise de vômito, notando seu rosto cada vez mais pálido.

- Para onde está me levando?

- Tirar essas roupas. - respondo ofegante, o ouvindo soltar uma risadinha.

- Sua gatinha travessa, nem pediu meu número. Pensei que gostasse de encontros mais tradicionais.

Suspiro irritada, mas desisto de retrucar. Estou cansada demais e feliz por termos alcançado o banheiro.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora