Capítulo 21 - Pesadelo

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Estou com frio, muito frio. Remexo-me desconfortável, mas, pareço impedida por algo. Minha cabeça lateja e um enjoo desagradável sobe por minha garganta quando cenas de um pesadelo sanguinário me tomam. Corpos mortos, sangue, Bruno prestes a morrer e Rafi a frente disto tudo. Talvez a Émile tenha razão, estou beirando a loucura. Gemo ao constar isto, quando um jato de água fria atinge meu rosto.

Desperto atordoada. Por mais que pareça irreal, não foi apenas um sonho ruim. Tremo ao erguer meus olhos com dificuldade para quem está em minha frente, em direção à luz do teto, destruindo uma garrafa de água com as mãos e a jogando com brutalidade para longe. Rafi! Pisco repetidamente com a dor em minhas têmporas, creio que efeito da droga que foi injetada para me apagar.

Minhas mãos estão amarradas aos braços da cadeira, meus pés presos à mesma e algo tapa minha boca. Noto as paredes em cor bege que harmonizam com algumas cortinas azul-celeste, deste lugar que nunca estive antes. Meu Deus! Eu fui sequestrada!

Através das grandes janelas de vidro, avisto o céu se tornando escuro, não sei por quanto tempo estive desacordada. Ao chão vejo uma grande mala, junto à toalha que estive enrolada, provavelmente fui trazida para cá dentro dela. Desgraçado!

Emito sons com minha garganta enquanto tento me desprender, agora completamente consciente da situação.

— Quieta... — Abaixa-se e apoia suas mãos nos braços da cadeira. Obedeço, ao passo que aproxima seu rosto ao meu. Seu cabelo penteado para trás, junto a sua barba agora bem aparada, realçam ainda mais a perfeição de seus traços duros. Como um anjo caído, sua beleza abriga um ódio me faz tremer outra vez.

Forço-me mentalmente a me acalmar, entrar em pânico não será útil agora, mas, minha respiração ofegante e o suor que desce frio por minha testa o vendo a milímetros de mim, evoca para o perigo que estou — Tão angelical... Mas, tão perversa.

O quê!?

Volto a lutar tentando me libertar das amarras, agitada com o que acabei de ouvir. Nada faz sentido. Como pode me chamar de perversa após a chacina que fez e me sequestrar?

Busco saídas deste cenário surreal enquanto sinto meu coração na garganta, aterrorizada pelo medo. Nunca me imaginei nesta situação, muito menos raptada por alguém que me relacionei à distância. As tragédias nos jornais sempre parecem tão distantes de nós. Como pude baixar minha guarda desta forma? O que será de mim de agora em diante?

— Não conseguirá sair, só irá se machucar se continuar tentando. Seja colaborativa e isto não será preciso, ok? — Diz retirando a mordaça de minha boca, me deixando estarrecida com sua indiferença.

— Onde está meu irmão!? O que você quer, Rafi!? — O pavor parte a minha voz ao lembrar-me de Bruno e seu olhar partido antes de ser arrastado e me deixar.

— Não é óbvio? — Seu desdém me transtorna. O que pode ser óbvio, além do meu sofrimento.

— Não! — Respondo tentando não demonstrar meu desespero que só me deixará mais vulnerável. Preciso manter a calma para pensar com clareza. Não possuo nada de valor e isto só piora a situação se é lucrar com o resgate que ele quer. — Você sabe minha situação financeira se é dinheiro que procura.

— Não quero seu dinheiro.

— Então, o que você quer!? Por que reapareceu para isto!?

— Eu quero vingança, Anália! — Vocifera envolvendo meus braços com força, mas, logo se afasta, para meu alívio. — Vocês tiraram a vida do Henry, e irão pagar por isto!

— Do que você está falando!? Você ficou louco!?

Um riso sarcástico lhe escapa. — Louco eu estava quando me enganei e não dei ouvidos a Henry sobre você. Ele estava certo e deveria estar vivo hoje. Sou responsável por isto. Mas, não errarei novamente.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora