Capítulo 13 - Insegurança

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Tenho olhos fixos em meu notebook enquanto almoço antes de seguir para o trabalho. O sabor não é dos melhores; modéstia à parte, minhas comidas são muito mais saborosas que o feijão com arroz deste restaurante. Mas, considerando a boa localização a uma quadra de distância da lanchonete e seu preço acessível, vale a pena meu desgosto diário. No entanto, no momento seu gosto não é de muita relevância para mim, estou ansiosa demais a espera de Rafi, além de uma leve dor incomoda em minhas têmporas, resultado das cervejas de ontem.

É comum conversarmos durante meu almoço, além das rotineiras mensagens ao acordar que também não recebi hoje. Prossigo resistindo ao desejo de enviar-lhe novos recados e me contento em apenas aguardar que responda o que enviei pela manhã, não quero parecer uma desesperada, porém, considerando nossa última conversa, é exatamente assim que me sinto.

Meu celular vibra, porém, ignoro as mensagens da Émile, assim como a evitei durante a aula. Não sei se estou pronta para ouvir suas desculpas sobre sua atitude com a Carolina, nem em considerar que é mero ciúme de amiga. Cogitar que seu comportamento é preconceituoso me dá ódio, algo que não imaginei e nem quero sentir por ela. No entanto, apesar de Carol ter me ouvido e entendido que era meu desejo a incluir na comemoração, ainda me sinto culpada, sei que tolera a Émile apenas por minha causa, mas não deve ser fácil conviver com estas provocações.

— Graças a Deus! — Exclamo baixo recebendo a vídeo-chamada que esperava. Afasto minha refeição na mesa e lhe aceito rapidamente. — Oi...

— Marhaba (Olá) — Finge uma advertência com meu deslize. Para meu alívio, seu semblante hoje parece muito mais relaxado, voltando a seu modo afável e terno.

— Oh, sim! — Rio envergonhada. Na verdade, extremamente envergonhada. Não sei mais como lhe abordar após as confissões que fiz, e para piorar, sua aparência não está colaborando. A camisa preta de gola alta por baixo de sua jaqueta de couro, junto ao cabelo bem penteado para trás, parecem realçar ainda mais as linhas angulares de seu rosto másculo. Não queria que a mesma insegurança que sentia em meu relacionamento passado retornasse, porém tenho dificuldade em controlá-la e o medo de não ser correspondida e que as coisas mudem entre nós me deprime. Será este o motivo de sua ausência pela manhã? Está tentando um distanciamento? Não! Se minha consciência alterada não me pregou peças, ele me pareceu sentir o mesmo ontem à noite.

Como se lendo meus pensamentos, Rafi prossegue:

— Desculpe o retorno tardio, precisei me encontrar com alguém logo pela manhã. Saí às pressas.

— Encontrar alguém? — percebo o lugar onde está que parece um restaurante, e me pergunto quem ele poderia ter ido encontrar com tanta urgência.

— A negócios. — Responde fechando o semblante, parecendo não querer mais tocar no assunto.

— Pesquisei o endereço do remetente de meu presente. K. J trata-se de uma joalheria. — Cruzo os braços em frustração.

Ele ergue uma sobrancelha, surpreendido — Mas, que gatinha curiosa.

— Lógico. Você não me diz seu endereço.

— Por que quer saber isto? É tão importante assim?

— Claro! Como vou lhe enviar algo?

— Não quero que envie.

— Está com medo de mim. — Apelo pra provocação. — Acha que vou te perseguir, sequestrar e matar?

— Bem, é uma possibilidade. Fiquei curioso em saber como conseguiria isto. — Lança um sorriso sarcástico.

— Está me subestimando? — olho-lhe desafiadoramente. — Então lutador de kickboxing, saiba que tenho em meu favor o velho chute nos sacos e os dois dedos nos olhos. Mas... Juro que não sou uma psicopata. — Ergo as mãos em rendição o que arranca dele uma risada — Eu... confesso que tive medo no começo também... Ainda bem que tive sorte.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora