Capítulo 7 - Infortúnios

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— Você gostou de alguma? — Carolina esperava entusiasmada por minha resposta.

Olhei indecisa para as roupas que ela havia trazido para mim. Meu guarda roupa se resumia a jeans e camisetas, exceto por um vestido que usei há alguns anos, num casamento de uma colega de ensino médio.

Quando soube minhas poucas opções de looks para o encontro, ela se prontificou a me emprestar algumas de suas roupas, e eu estava realmente grata por isto. Apesar de ser um jantar a noite, um vestido de festa seria sofisticado demais para a ocasião, e minhas roupas casuais apesar de confortáveis, não surtiriam o efeito que eu pretendia. Queria me sentir além de uma garota "boazinha", mas ser olhada e deseja como mulher.

— Hum... Estou em dúvida. Este vestido vermelho é muito bonito...

— Ah! Eu sabia! — Ela reagiu com pequenas palmas, porém antes que ela comemorasse mais, prossegui:

— Mas acho que vou com o preto.

— Por quê? O vermelho ficará maravilhoso em você!

Na verdade, ele era lindo e faria eu me sentir exatamente como pretendia. Mas a cor preta me deixava dentro da minha zona de conforto, e eu precisava de um pouco de segurança no momento.

— Não sei... Tem esta fenda lateral e...

— Mas não é ser sexy o que você quer? Ele é perfeito pra isto.

— Você tem razão, mas... Não acho que devo me expor tanto.

— Tudo bem. O que importa é o que você gosta, ficará linda em qualquer um dos dois.

— Obrigada.

— Mas eu me recuso a levá-lo embora. É um desperdício que você não o use, ele parece ter sido feito para você. Vou deixá-lo aqui, é seu agora.

— Não, Carol, não precisa.

— Relaxa, estas roupas não cabem mais em mim, eu preciso me desfazer delas mesmo. Você terá outras ocasiões para usá-lo.

— Mas, você já está me ajudando muito agora, e ele é tão lindo, não precisa se desfazer dele. Eu só preciso de um para esta noite.

— Eu insisto. — Ela o pôs em minhas mãos, parecia fazer mesmo questão que eu o aceitasse, como se aquilo a beneficiasse muito mais do que a mim. Seus olhos eram um misto de súplica com algo que não soube distinguir bem no momento. Gratidão? Mesmo não tendo certeza se teria coragem de usá-lo um dia, não sabia como recusar vendo tanta bondade.

— Tudo bem. Obrigada mais uma vez.

— Não há de quê. Sabe que pode contar comigo sempre.

— E você sabe que é um anjo, não é? — Falei tentando abraçá-la.

— Não faça isso. Eu estou derretendo em suor.

— Por que não me disse antes? — Corri para ligar o ventilador, enquanto ela se sentava em minha cama em frente a ele.

— Tudo bem. Isto às vezes me incomoda um pouco. — Apontou para o lenço que usava ao redor da cabeça. Percebi que nunca a havia visto sem ele, mas sabendo que era um assunto delicado para ela, deixei de notá-lo. — Posso tirá-lo?

Esta pergunta era mais para quem a fez do que para mim. Mesmo sem ter conhecimento do porquê, eu sabia que era muito difícil para ela fazer aquilo.

— Claro. Aqui você está em casa.

Ela soltou uma respiração pesada, e então desamarrou o lenço. Por baixo dele, Carolina cobria a extensão de sua queimadura, que seguia até uma pequena parte lateral direita de sua cabeça, deixando-a sem cabelo nesta região, e com uma orelha deformada.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora