Capítulo 30 - Provocação

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Vagueio pelo quarto me sentindo deslocada nesse lugar, como tem sido há alguns dias desde o encontro forçado entre mim e Madeline, induzido por Rafi. Estamos ignorando um ao outro.

Não importava quanto eu me encontrava comovida com a história que acabara de ouvir, eu ainda não estava pronta para encarar aquela mulher de língua felina e palavras amargas.

— Ela me odeia. — Retruquei.

— Isso não é novidade na posição em que você está. Também estou ciente do primeiro encontro nada amistoso de vocês duas por culpa da petulância de Madeline, mas isso não lhe dá o direito de agredi-la. — Disse enquanto me avaliava com olhar perturbado. — Confesso que mais uma vez me surpreendi com você, Anália.

O ouvi muda, enquanto eu me servia apressadamente do espaguete ao molho de tomate e bife a parmegiana, refletindo no que dizia.

Em outras circunstâncias, aceitaria seu pedido e o faria de bom grado, mas naquele momento não era possível.

A agressividade nunca foi um traço típico em meu temperamento, e era inesperado como eu facilmente fui dominada por ela e a usei contra a víbora. Não me orgulhava daquilo, porém, não senti remorso algum. Por algum motivo minha aversão a ela vai muito além das suas baixas provocações e aquilo me perturbou.

— Não sou assim. Mas algo nela parece despertar o pior de mim. —  Confessei-lhe antes de iniciar minha primeira garfada, o deixando refletindo em silêncio.

Meu objetivo era encerrar o mais depressa possível, antes que a convidada indesejada chegasse. Infelizmente não demorou muito para que ele fosse a atender na porta.

O som dos seus saltos ecoaram pelo quarto enquanto se aproximava, o que me fez suspirar irritada.

Imediatamente senti os seus olhos sobre mim. Não tive coragem de encará-la, mas podia sentir sua satisfação com aquela situação.

— Boa noite, Anália.

A olhei de relance a minha frente. Usava um vestido rosa tão vibrante quanto seus lábios, num tecido de ceda perfeitamente ajustado ao seu corpo esbelto, enquanto Rafi puxava para ela uma cadeira a sua esquerda, me irritando ainda mais.

Foquei novamente em meu prato, ignorando sua cordialidade.

Não foi um jantar fácil, como já era previsto. Tive que suportar os olhares indiscretos, assim como as falas sugestivas e repletas de segundas intenções dela para Rafi. Por vezes, a via alisar seu braço e com grande esforço me mantive concentrada em minha refeição, tentando não mentalizar o que poderia estar acontecendo sob a mesa, abusando de longos goles de vinho para digerir tudo aquilo.

Ele, no entanto, espreitava-me impaciente, se mostrando cada vez mais irritado, dando-lhe respostas vagas e às vezes rude.

— Talvez, alguém tenha algo para falar esta noite. — A voz de Rafi soou alto, quebrando meus pensamentos.

Mantive-me muda mesmo sabendo a quem havia se dirigido.

— Estou falando com você, Anália. — Ergui minha cabeça, assustada, mas não me dirigi a ele.

Não conseguiria isso. Estava com muita raiva para encarar o rosto daquele conquistador de calcinhas imoral, mesmo sabendo que minha falta de reação e silêncio, o enfureceria ainda mais.

Meu embaraço pareceu divertir a megera, que estendeu os dedos pálidos e compridos sobre a boca, para conter o riso. O que não foi algo muito inteligente.

— Deseja compartilhar sua alegria conosco, Madeline? — Perguntou-lhe calmo, mas o sorriso dela logo desapareceu ao ver a animosidade nos seus traços que se contorciam numa carranca.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora