Capítulo 22 - Fuga

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Desperto inerte na escuridão. Sinto os lençóis macios da cama grande na qual adormeci, enquanto apenas luzes da cidade mergulham através das cortinas que tapam parcialmente as janelas, formando sombras sutis pelo quarto. Aparentemente um ambiente agradável, se não fosse pelo meu tremor interior, indicando meu cativeiro.

Minha garganta arde, porém, o enjoo desagradável e o latejo em minha cabeça não é mais presente. Também não há mais uma mordaça em mim, para meu alívio.

Uma dor fina castiga meus pulsos, enquanto os avalio, notando não estarem presos. Estou grata por tê-los livre das algemas que me machucavam, no entanto, logo sou tomada pela dúvida do que o levou a me libertar, e o que mais pudera ter feito com meu corpo adormecido.

Movida pelo pavor, desço minha mão verificando por entre minhas pernas.

— Não violentei você, se é isto que está pensando. — Diz acendendo a luz. Tenho um sobressalto ao ouvi-lo. Pensei está sozinha, mas, encostado à parede num canto próximo à cama, Rafi me observa. Recolho minha mão, envergonhada com o que viu. — Meus objetivos com você são outros.

Apesar do alívio com sua não violação, não me passa despercebido seu desdém.

É tão grande seu ódio por mim, para me desprezar dessa forma, esquecendo nossos bons momentos?

Novamente, sou tomada pelo desespero ao recordar suas acusações. E se elas realmente tiverem fundamento? Não posso me enganar e desconsiderar que os negócios de Bruno sempre foram suspeitos para mim, porém, nunca imaginei que chegaria a tanto.

Afasto estes pensamentos buscando manter minha coerência. Independentemente do que tenha feito, amo meu irmão e irei protegê-lo. Preciso focar em contornar a situação com sabedoria.

O observo enquanto me sento na cama, puxando cuidadosamente o lençol a frente do corpo.

— Por que me soltou? — Ainda temo suas intenções e isto é revelado por minha voz sem fôlego que falha inesperadamente.

— Precisa comer.

Estou assustada demais para esboçar reação. Ele poderia simplesmente arrancar o que quer de mim e encerrar decidindo o que fará comigo e com meu irmão, mas, faz isto para prolongar meu martírio.

— Onde está minha pulseira? — Questiono, dando por falta dela. Não me lembro de a ter tirado desde que Bruno a pôs em mim. — Eu tinha certeza que ela estava aqui.

— Tirei.

— Você a roubou!? — Questiono horrorizada. Até isto ele tirou de mim.

— Já disse que não quero nada seu.

— Então me devolva.

— Não.

— Foi um presente...

— Não! Não quero nada dele aqui dentro. — Não entendo o que diz. O que ele sabe? Por que me priva disto se nem mencionei que a ganhei de Bruno? No entanto, apesar de ofendida, aceito sem apresar resistência. Tenho que transmitir calma.

Foi irresponsável tentar fugir daquela maneira, ele é muito mais forte e grande. Posso ver sua corpulência através músculos saltados por baixo do suéter verde-escuro e eu mal alcanço seu tórax. Estou em muita desvantagem para lutar contra ele. Não quero ser apagada ou algemada outra vez. É essencial fazê-lo confiar em minha aceitação e colaboração com ele, para só então agir com sua guarda baixa.

Ele move-se pelo quarto, arrastando o carrinho de refeição com destreza. Opostamente a mim, tudo em nele emana uma confiança ameaçadora, até seu andar imperturbável, como de um animal predador.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora