Capítulo 32 - Sua relíquia

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Caminho para a sala, recorrendo aos livros, torcendo para que algum deles ajude a distrair minha mente que tem me pregado peças.

Apesar de meus esforços que continuam bem sucedidos em manter distância física entre mim e Rafi, é a noite que meu orgulho me trai... Seus olhos, seu cheiro e até o som de sua respiração... Tudo inebria meus pensamentos e se recusam a abandonar meu inconsciente.

E, como se não bastasse a fraqueza de minha mente, meu relógio biológico segue me despertado todas as manhãs ao nascer do sol; horário que eu iniciava minha rotina para ir à faculdade, meses atrás. E lá está, como uma tentação maligna, atraente e perigosa, o anjo caído repousando sobre o sofá, de calças moletom e peito desnudo.

Vergonhosamente, meu corpo também fraqueja e me aproveitar de seu sono pesado para me dobrar ao seu lado e admirá-lo de perto enquanto dorme, tornou-se meu hobby matinal.

Sua fraca... Suspiro irritada. Ele não merece nem um pouco de minha admiração.

Em minha defesa, alego que resistir àquilo se torna muito mais difícil quando tenho sua presença constante em meus sonhos todas as noites.

Ao menos minha postura indiferente a ele quando acordado, preserva o pouco de minha dignidade.

— Olá! — Aceno para Fernán, ao passar por ele, que se encontra numa conversa discreta e aparentemente nada agradável com Rafi no sofá da sala.

Rapidamente, os olhos de meu perturbador de sonhos caem sobre mim, fitando-me intrigado, mas o ignoro. Talvez sendo ligeiramente mal-educada, reconheço, mas, estou pouco me importando para normas de etiqueta no momento.

Ao invés de ter meu cumprimento correspondido, recebo apenas o olhar negro e silencioso, que pousam mais tempo que o devido, no pedaço de coxa desnuda no short que visto. É indelicado, mas não vou dar o gostinho ao homem ao lado de demonstrar meu incômodo, e o correspondo com um leve sorriso, antes de virar-me parando em frente a estante, arrependida de minha cordialidade imerecida.

Avalio as alternativas de livros a minha frente, a maioria não muito atrativa no momento: biografias, autoajuda, folhetins, culinária... Vejo a descrição e sinopse de alguns tentando agir com naturalidade, enquanto sinto olhos em mim. É tão desagradável que até esqueço-me de como se une as sílabas para ler, mas logo respiro aliviada quando ambos abandonam o quarto.

Outra vez, o objeto mortífero bem apoiado num suporte de espada único, reluz diante de meus olhos. Desde nosso primeiro encontro, estava ciente de sua aptidão por caça e kickboxing, mas não por esgrima. Provavelmente, mais um item na sua lista de esportes violentos.

Intrigada, corro meus dedos pela bainha de madeira lacada preta, bordada com um brasão dourado em formato de cruz e duas asas unidas. Parece de muito valor.

— Incrível, não?

Retiro a mão abruptamente, desnorteada com a voz repentina de Rafi, próximo a mim. Observo com cautela seu achegamento, aparentemente não hostil.

— Bonita. — Dou de ombros com desdém, retomando minha atenção para as literaturas.

É curiosa sua aproximação, mas não quero me comunicar com ele. Deixei-lhe claro que não preciso de seu grande esforço para amenizar nossa convivência. Também, ainda sinto raiva de como me rendi a nossa "dança" erótica na parede, e a forma como terminou.

— É uma Katana. — Insiste astutamente, conseguindo despertar minha curiosidade. O que faz um árabe ter uma espada de samurai no quarto?

Lembro-me de como conheci de forma breve a cultura do Japão em mangás e animes durante a infância, que me fez guardar ainda hoje um pouco de admiração e interesse por sua história. Há muito simbolismo nessas armas nada comuns.

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