Capítulo 38 - Encontro (parte I)

161 19 21
                                    

Estou quieta sobre cama, com os joelhos recolhidos debaixo de meu queixo há algum tempo.

Meu coração está apertado e meu corpo continua frio, embora eu esteja suando muito.

Meus olhos estão vidrados na TV a minha frente, mas não consigo me atentar a nada que estou vendo. Minha mente ficou presa no bilhete que li, horas atrás.

Ainda assim, o pouco de consciência que me resta, capta o perfume masculino e sensual de Rafi, que vem até mim.

Desvio minha atenção para ele e o observo colocar um tablet em minha mesa de cabeceira e uma sacola de papel sobre a cama.

— O que é isso? — Pergunto, sem muito interesse.

Ele faz uma pausa, me avaliando em silêncio.

— Parece que alguém andou escondendo coisas.

Meu coração antes acelerado perde uma batida enquanto lhe encaro.

Ele veste uma camiseta azul-marinho de decote v, que evidenciam seus ombros largos e os músculos que saltam através dela, aumentando meu sentimento de incapacidade de lutar contra ele.

Puxo o ar pela boca enquanto me certifico mentalmente que descartei o bilhete de forma segura.

— Do que está falando? — Mantenho a calma, antes de começar a implorar de joelhos que me perdoe.

— Por que me escondeu que tinha avós? Achei que era apenas você e seu irmão.

Solto o ar com alívio, sentindo o sangue quente tornando a minhas veias.

— Não escondi. — Confesso voltando minha atenção para a TV.

Ouço seu suspiro enquanto o vejo, pelo canto dos olhos, esconder as mãos nos bolsos do seu jeans, ação que já tenho como indicativo de autocontrole, mas, estou fodida demais para me importar com isso.

— Então, por que não me falou sobre eles? É sua família, não?

Abraço minhas pernas contra mim. Seus questionamentos me atingem num ponto muito doloroso.

Como eu poderia ter mencionado pessoas que precisei fingir que não existiam por quase toda minha vida?

— Não era tão importante. Quer dizer... Não somos tão próximos.

— Não é o que parece. Já que logo deram por sua falta. Por que os escondeu?

Um nó desagradável aperta minha garganta ao me lembrar de minha avó.

Para me proteger eu precisei me afastar, a ignorar, sem que ela possuísse qualquer culpa.

E mesmo tão distante, ela não deixou de se importar comigo.

Respiro fundo para impedir que esse aperto assuma proporções incontroláveis, e o encaro sem paciência para mais desconfianças e interrogatório.

Só lhe falta querer colocar o tráfico de Bruno na conta dos meus avós também.

— Não escondi! O que quer!? Achou mesmo que não haveria ninguém para me procurar? Ainda que não fossem meus parentes, eu tenho amigos, pessoas que se preocupam comigo, pessoas que me amam de verdade! — Digo-lhe enfatizando bem as últimas palavras. — Nem todo mundo é como você.

Sinto meu rosto quente e meu coração tão acelerado que o ouço bater em meu ouvido. Ele me avalia de cenho franzido, e ao contrário do que eu esperava, suas feições parecem mais preenchidas de aflição do que de fúria.

— Não importa — Diz sentando na cama, próximo a meus pés. Observo encolhendo ainda mais minhas pernas, até ter certeza que ele não está bravo. — Terá que usar o disfarce.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora