Capítulo 16 - Ausência

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Ouço batidas em minha porta quando os primeiros raios de luz atravessam a janela do meu quarto, me fazendo contorcer de dor ao abrir os olhos, embora não se compare a que machuca meu interior. Não lembro quando nem por quanto tempo adormeci, talvez por apenas alguns minutos, pois, meu corpo dolorido e exausto parece ter se exercitado por horas ou talvez sido pisoteado.

Forço-me inutilmente a acreditar que tudo não passa de um sonho ruim, mas assim como nas manhãs anteriores, meu travesseiro encharcado por minhas lágrimas, prova que minha miséria é real.

Ligo meu celular, ainda habituada a receber mensagens suas ao acordar, mas, logo sou tomada pela dor novamente.

— Rafi... — Choro enquanto o chamo, dilacerada por não o ter mais.

Outra vez, as batidas retornam a minha porta. Como das outras vezes, ignoro abafando meus ouvidos com o travesseiro, nervosa com a insistência da Émile, e espero que vá embora. A última coisa que preciso é de seu ar soberbo me julgando.

— Anália, sou eu, Carol. — Remexo-me na cama, sem vontade, porém, ela se arriscou demais estando tão cedo em minha casa.

Com dificuldade levanto-me enxugando meu rosto, e vou atendê-la.

— Oi... — cumprimento-a, indicando para que entre, porém, esse movimento faz minha cabeça girar.

—Anália! — Carolina me segura antes que eu caia, me ajudando sentar no sofá. — Por que está tão fraca?

— Estou me recuperando de uma gripe. — Ela acena, parecendo não acreditar no que digo. — Então... O que te traz aqui tão cedo? — Pergunto desconfortável com seu silêncio e olhar avaliativo.

— Você sabe o porquê que estou aqui. É final de período e você não vai à faculdade há quase duas semanas.

— Eu irei quando puder.

— Anália, o que está havendo? Você nunca faltou um dia sequer, por estar gripada. Não atendeu as visitas da Émile, mal respondeu nossas mensagens... Nem mesmo sua chefe tem notícias suas!

— Eu a enviei um recado. Ela não pode exigir muito de alguém que nunca recebeu pelas horas-extras no trabalho, ou teve direito a férias. Eu mereço esse descanso.

— É ele, não é?

Desvio-me dela, sentindo meus olhos arderem novamente. Às vezes, odeio que ela me conheça tão bem.

— Eu dancei para ele... — Confesso derrotada. — foi mágico. Do nosso primeiro ao último segundo juntos, foi sublime. Foi o nosso melhor momento... Ele não podia me deixar assim! Sem que eu ao menos saiba se ele está vivo...

— Ei — Toma meu rosto nas mãos enxugando algumas lágrimas — São apenas vinte dias. Pode ter acontecido algum imprevisto, uma viagem de emergência.

— Isto não o impediria de mandar notícias. O Henry estava desaparecido e ele estava muito atordoado com isso. Aconteceu algo, Carol! Eu sinto... Droga! Por que não atende minhas ligações!? E este número de Henry que não existe!? Eu me entreguei, me expus para ele... Por que ele faz isto comigo!? — Pergunto com a voz cortada pelos soluços.

— Independente do que tenha acontecido, Anália, você precisa ser forte. — Carolina me abraça. — Você tem sua vida e seu futuro pela frente. Precisa continuar.

— Eu estou tentando, mas, Rafi estava em todos eles.

— Vai ficar tudo bem, ok? Vamos rezar para isto. — Afaga minha cabeça.

— Não sou boa com essas coisas.

— Só precisa acender uma vela, e fazer um pedido. Agora vá comer algo e iremos para a aula. Não aceito que fique mais um dia em casa.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora