Capítulo 65 - Anália (parte III)

142 13 6
                                    

Rafi

- Está com a cabeça longe. - Henry alertou observando a bala de meu rifle, cravada no tronco de uma árvore enquanto o javali escapava assustado.

- Talvez. Estou ansioso para concluir essa investigação. - suspirei enquanto enxugava uma gota de suor quase congelada pelo frio daquela noite, que brotava em minha testa.

Não era mentira. Eu ansiava poder encerrar aquela vida dupla que levava e finalmente revelar minha identidade a Ane e também a do seu irmão. Ela merecia saber e escolher se afastar de nós dois. Bem, era o que eu achava que ela faria.

- Será? Ou está mais focado em proteger a presa? - sua voz soou irônica e embora eu não conseguisse decifrar a qual presa ele se referia, sentia que algo no Henry estava mudando a meu respeito. Era impossível definir, pois, seus olhos estavam focados na trilha enquanto avançávamos na floresta iluminada pelo silibrim que ele carregava em mãos.

- Não sei o que está falando, mas estou realmente confiante sobre o rumo disso a partir de agora. Depois que Ane cedeu o número do Bruno...

- Ane?

Pausei constrangido com sua observação.

- Sim, quer dizer... Anália. Ane é apenas um apelido que atribuí a ela, para que nossa interação fosse mais íntima e...

- Rafi, você está fora da investigação.

- O que?

Interrompi meus passos, voltando-me incrédulo para Henry que já me observava pacífico, parado alguns centímetros atrás de mim.

- Isso mesmo. Você está fora. Encerre suas buscas e se afaste da garota. - Ordenou com uma tranquilidade absurda.

- Henry, eu estou nisso desde o começo! Eu consegui pistas importantes, estou prestes a descobrir todo esquema do desvio de nossas armas e você quer que eu caia fora?

- Você está mudado. Eu reconheço que você era útil... Até um dos nossos principais atiradores ser morto e provavelmente estarmos sendo vigiados nesse momento, enquanto você defende a inocência dessa... "Ane".

- Mas ela é! - Protestei indignado com o seu delírio, mas ele suspirou enquanto deitava o silibrim no chão, para puxar um cigarro da carteira que guardava em seu bolso. - Que porra, Henry! Ela não tem nada a ver com isso!?

- Não?

Seu olhar era tão desconfiado quanto sua voz, quando se aproximou para me encarar como um farejador a procura do erro. Eu não queria acreditar, mas suas suspeitas estavam claras.

- Está achando que passei informações de nós? Que EU sou um traidor? - Ralho, desacreditado.

- Sim.

Suspirei colando minha testa no tronco úmido de um pinheiro, tentando disfarçar a decepção que sentia. Não sabia se pelo Henry, ou por eu ter me colocado naquela situação.

- Eu nunca trairia você, Henry, você sabe disso. Que vantagem eu teria?

- Mate a garota. Assim veremos por quem fomos delatados.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora