Capítulo 87 - Insipiência

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Obviamente, não tive minha melhor noite. Julgo dizer que foi a pior nessa casa.

Eu me contorci de dor durante todas as horas da madrugada que se arrastaram em câmera lenta.

Pensei em sair do quarto e pedir ajuda, mas sabendo que o quarto do Rafi está ao lado e ele seria o primeiro a me ouvir ou talvez estivesse me vendo pelas câmeras, desisti. A dor ainda não era maior que meu orgulho para aceitar qualquer favor dele.

Não sei se extrapolei meus limites na trilha que me aventurei junto ao Colin, mas cada parte de mim dóia, desde o dedão do pé, até meus joelhos e mãos que se chocaram contra o chão, meu cotovelo ralado no passeio pela manhã e minha barriga que parecia querer expulsar todos os órgãos que se abrigam nela.

Ingeri os dois últimos comprimidos AAS da cartela que o Colin me trouxe, porém, não pareceu surtir efeito algum. A dor só aumentou fazendo meus músculos tremerem. Como um caracol, me contorci em posição fetal sob as cobertas e assim permaneci até que minhas pálpebras cansadas venceram.

Julgo ter dormido por uma ou duas horas. O dia permanece chuvoso e os primeiros raios de sol me atingem às 6h30min, fazendo-me despertar.

Abro os olhos sentindo minha cabeça pesada. Depois de todo meu fracasso ontem a noite, eu só queria um sono digno e relaxante, mas pareço estar mergulhada numa maré ruim.

Sento-me na cama precisando de um tempo nesta posição para não cair. Estou levemente zonza e com o mal-estar de quem afogou todas as mágoas na bebida na noite anterior.

Levanto-me caminhando até o banheiro. Não me lembro de algum dia ter sentindo dores tão fortes e começo a fazer planos para levar uma vida mais saudável e ativa quando retornar para minha casa.

- Nem os figurinistas de The Walking Dead conseguiria uma caracterização assustadora tão boa... - Resmungo em frente ao espelho, observando meu reflexo e me apoiando sobre a pia.

Meus olhos estão vermelhos, o que não é inesperado considerando o quanto chorei embaixo do chuveiro antes de ir para a cama ontem. As pálpebras em sua volta estão escuras, assim como meus lábios com um tom vinho escuro, quase arroxeado, ambos perdidos em um rosto extremamente pálido.

Ponho um pouco do creme dental em minha escova de dentes, entretanto, quando o sabor de menta atinge minha língua, meu estômago começa revirar.

Não ter jantado ontem e nem comido hoje, apenas piora meu sofrimento. Os enjoos veem mais fortes, porém, não há nada para ser expulsado.

Contorço-me castigada pelas contrações violentas dentro de mim, até eliminar um líquido amarelo-esverdeado e de gosto amargo, minha bile, seguindo de um leve alívio.

Estou tremendo da cabeça aos pés.

Jogo um pouco de água fria em meu rosto e termino de escovar os dentes, rapidamente. Cuspo a espuma branca na pia, percebendo alguns raios avermelhados misturados a ela.

Eu estou sagrando?

Meu corpo estremece ainda mais.

Pego um roupão seco e o visto por cima do pijama. A blusa de mangas longas e as calças moletom que uso não são mais suficientes para conter meu frio.

Saio do banheiro e aproveito passando na porta a deixando destrancada. Estou poupando meu tempo e meu corpo de me arrastar até ela novamente quando meu café da manhã chegar, se chegar, considerando que minha última conversa com o Colin não foi muito amigável.

Lutando contra a dor fadigante que parece espremer meus músculos, arrasto a cadeira da penteadeira até a janela, e me agasalho nela abraçando minhas pernas.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora