Capitulo 48 - Exílio

127 19 13
                                    

Sinto-me como um zumbi. E acredito que neste momento eu me pareça com um, talvez.

Não pude descansar ontem, na noite do acontecimento fatídico, nem nas horas seguintes. Cada pedaço de meu corpo estava dominado pela exaustão.

Sentir-me daquela forma não era novo para mim. Conheço bem como é estar sozinha e desprotegida, tendo minhas pálpebras como maior inimiga, pois, quando pesavam me arrastavam para meus próprios tormentos.

Eu não podia dormir. Não queria deixar meu corpo vulnerável ao mundo terrível a meu redor. No entanto, não consegui ser forte todo o tempo.

Chorar me causava dores nas costelas, mas o pavor e a repugnância das mãos de Fernán não me abandonavam.

Enquanto a noite caia, olhei através da janela as estrelas que começavam a cintilar solitárias no céu quase totalmente negro, ao passo que um vento frio balançava as cortinas e acariciava minha pele.

Segurei-me a isso, puxando o ar e o soltando lentamente em sincronia com a brisa suave, tentando cessar o choro e me desvincular do tormento vivido.

Sem que eu me desse conta, estava sendo arrastada pelo piso frio, enquanto palavras chulas eram proferidas a mim. O olhar de Fernán era terrivelmente sombrio e parecia me lançar navalhas afiadas, que revelavam suas intensões más. Fechei os olhos com força ao sentir seu chute violento contra minha barriga, e quando tornei a os abrir, vi apenas a escuridão do quarto que mergulhava no silêncio.

Rafi estava estático próximo à cama, olhando-me alarmado, enquanto eu o encarava assustada sem entender o que aconteceu, nem o porquê dele estar ali.

Rapidamente, me ofereceu água e analgésicos, enquanto se colocava a meu lado, perguntando-me o que eu sentia.

Eu o ignorei, obviamente. Assim como a água e os remédios, embora minha boca estivesse extremamente seca e o corpo dolorido. Estava magoada demais para aceitar qualquer coisa dele. Nada poderia corrigir o que aconteceu.

Infelizmente, não apenas dessa vez minhas pálpebras me venceram, mas por quatro vezes revivi flashbacks tenebrosos. Em todas ele estava ali quando a realidade retornava, o que me irritava ainda mais.

Na segunda, não resisti a sede que me consumia. O esforço físico e gritos anteriores, castigaram minha garganta.

Relutantemente, esperei ficar novamente sozinha e me apoiei sobre o braço direito, me estendendo para pegar o copo com água que ele havia deixado sobre a mesa de cabeceira. Isso me fez notar como minha mão doía e estava edemaciada também.

Dei alguns goles curtos. Não queria que fosse perceptível que eu havia cedido e bebido daquilo.

Entretanto, o mesmo não foi possível quando pela terceira vez tornei a mim com uma fisgada agonizante em minha costela esquerda. Eu ficara deitada muito tempo sobre ela.

Eu tinha que admitir: necessitava dos analgésicos, o que me fez remoer de raiva ao tomá-los.

Precisava me livrar aquela dor que atormentava meu corpo, não me permitindo esquecer tudo que vivi, e quem sabe assim eu teria um pouco de descanso dos pesadelos.

O alívio era mínimo, mas me ajudou a respirar com um pouco menos de dificuldade o ar gelado que exalava daquele dia sombrio que começava a amanhecer, embora a essa altura, as janelas e cortinas já tivessem sido fechadas.

Logo, um arrepio eriçou todos os pelos do meu corpo e eu sabia bem o que aquilo significava, eu estava em perigo.

Era escuro demais no chão do quarto pouco iluminado, para ver de quem eram, ou de onde vinham os passos que se aproximavam, mas eu podia saber muito bem suas intenções. Eram a piores, como sempre. Tão sujas como eu estava.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora