Capítulo 37 - Retorno

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O cheiro desagradável de cigarro preenche minhas narinas. Vejo por entre minhas pálpebras pesadas, Colin sentado na pequena mesa de madeira, próxima a mim, tragando seu cigarro enquanto me olha estranho.

Remexo-me no sofá, percebendo que cochilei de boca aberta enquanto lia uma revista de fofoca antiga.

— Há quanto tempo está aqui? — Pergunto constrangida, passando a mão em minha boca para conferir se babei.

— Há bastante tempo.

— Por que não me chamou? — Pergunto irritada.

Seu rosto cínico não me faz duvidar que se não fosse pelo sigilo que eles mantêm, eu seria o novo boomerang no story de seu Instagram.

— Eu quis, mas tive medo de você morder minha mão. — Solta um riso me fazendo corar, sem graça.

Não estava enganada a seu respeito. Ele se difere em comportamento, de todos os outros que passaram aqui.

Não me admira que seja o mais próximo de Rafi. Somente com muita leveza para suportar o humor de um ancião de cem anos de seu chefe.

— Onde está Rafi? — Disfarço, mudando de assunto.

— No bar.

— De novo? — Questiono e ele me analisa com uma sobrancelha erguida.

É notório como sua ingesta de álcool tem aumentado dentro e fora desse quarto, enquanto se torna mais embrutecido e arredio que o habitual.

Um dia se passou e após nossa conversa, as coisas não melhoraram entre nós.

A raiva que sinto por seu desprezo não facilitou meu humor, além da ausência de Fernán. Não suporto mais essa espera.

Sua falta de retorno faz meu estômago doer e soltar farpas para todos os lados, inclusive, em Rafi.

No fundo, isso tem me incomodado e me odeio por isso.

Mas, ter acompanhado de perto alguém se destruir na bebida, não facilita as coisas.

— Sim. Não sei o que você fez, mas foi merda das grandes. — Diz, por fim.

— Por que diz isso? — Me prontifico em saber se fui mencionada em suas conversas.

Ele dá de ombros.

— A última vez que o vi nesse estado foi quando soube da morte do Henry... — Ele tira os olhos da fumaça que sai de sua boca, para me olhar acusador. — E quando ouviu sua ligação com Al-Samarrai. Acho que foi um choque muito grande para ele.

— Por que!? Se todo o tempo aquele cretino agia por minhas costas? — Retruco áspera, mas ele é tranquilo demais para se perturbar com isso.

— Não deve ter sido fácil conviver com o remorso de ir contra o homem que o acolheu, para te defender, e descobrir que o Henry estava certo só após a morte dele.

— Não estava. — Olho para ele com pesar. — Você também acredita nisso?

Ele ri.

— Eu não daria nada por você, mas... são as evidências.

Franzo o cenho sem saber se devo tomar isso como elogio ou ofensa.

Abro a boca para me defender, mas um barulho na porta nos faz saltar em nossos lugares e perder a voz.

Serviço de quarto... — A voz feminina soa do lado de fora.

Simultaneamente, o ar de alívio retorna a nossos pulmões, por não termos sido pegos no flagra pelo dono do nome doce (ou amargo) em nossas bocas.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora