Capítulo 26 - Embate

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Vestida numa blusa preta de decote profundo, igualmente justa a sua calça de couro, Madeline atravessa a porta com um sorriso triunfante em minha direção.

Madeline!? — Exclamo em desespero esperando uma explicação, sentindo meu rosto ferver.

— É bom te ver também, Anelia. — Diz, tão cínica como na primeira vez que a vi.

Ouço o barulho dos seus saltos se aproximando de Rafi, enquanto rebola em sua direção e passa os braços por cima de seus ombros. Por um momento pensei que veria uma grande e indesejada cena de beijo ao-vivo, mas seu selinho atinge o canto dos lábios dele que se desviou rápido para pegar no chão as chaves que escorregaram de suas mãos.

— Não preciso de companhia. Seus cães não dão conta de deter alguém com pouco mais de 1 metro e meio?

Algo parece divertir a loira. — Ha ha! Que gracinha. — Meu sangue ferve com sua amabilidade debochada, mas contenho minha ira.

— Confio que não será preciso deter ninguém. — Percebo no olhar de Rafi, que isso é muito mais que uma observação, é uma advertência. — Meus cães não serão necessários. — Encerra, encarando as duas mulheres em sua frente uma última vez antes de abandonar o quarto.

Agora a sós, o ar parece sufocante entre nós. Como se retirando uma máscara, seu sorriso falso se desfaz em uma carranca e seus olhos caem sobre mim, avaliando-me desdenhosamente enquanto me rodeia.

— Coitadinha... É mesmo uma miserável... Olha só como come. Mal consegue usar o talheres corretos.

Concentro-me em lhe ignorar para que suportar sua presença seja o menos cruciante possível.

É verdade que eu sou pobre, e não estou habituada a ter tantos garfos e colheres disponíveis para mim durante uma refeição, mas ter saindo com Eduardo há dois anos atrás, me fez estudar um pouco mais sobre etiquetas na mesa, ciente que provavelmente seria leva à um restaurante de luxo, e torço para não comenter nenhuma garfe agora.

Sirvo-me de um pouco da salada de alface, arroz e panquecas, acompanhando de bastante suco de maracujá para acalmar meus nervos já alterados com o barulho irritante de suas enormes unhas que arranham a madeira da mesa, assim como com a sua voz rouca.

— Então, Anelia... — Prossegue invadindo meu espaço e sentando-se junto a mim na pequena mesa. Reviro os olhos ao ouvi-la pronunciar meu nome. Céus! Nos lábios de Rafi era tão agradável, mas nos seus é insuportavelmente irritante.

— Anália. — Digo rispidamente, quebrando meu desafio mental de me manter indiferente a ela.

— Como?

— Além de burra é surda!? — Vocifero por entre os dentes, dominada por uma fúria que eu desconhecia. — Não olhe para mim, não se dirija a mim enquanto não tiver capacidade intelectual suficiente para aprender um fonema e o pronunciar corretamente!

Cuspo as palavras desejando que minha hostilidade fosse dura o suficiente para atingi-la e mantê-la em silêncio, mas ao contrário do que espero, estala gargalhada medonha que parece advir das profundezas do inferno, se ela não for o próprio.

— Eu quase teria medo... Mas, vejo que é ótima com sátiras. — A olho feio tentando manter uma postura intimidante, mas isso parece a divertir ainda mais. — Oh... Desmanche essa cara. Não parece está aproveitando sua estadia romântica aqui... Ops! — Põe a mão na boca prosseguindo com seu teatro humilhante. — Você é prisioneira dele.

Respiro fundo tentando conter minhas emoções. Ceder as suas provocações apenas tornará meu castigo mais massacrante e vexatório.

— Quer mesmo colocar nosso intelecto em jogo? Você? Que caiu na armadilha como um pato. — Mais uma vez, sua risada alta e sarcástica corta o silêncio. — Achou mesmo que havia algum interesse dele por você?

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora