Capítulo 35 - Chamas

215 22 28
                                    

Visto o pijama vermelho, quase totalmente idêntico ao meu velho e surrado com bolinhas brancas, e abandono o banheiro após um banho refrescante, porém nem tanto. Nem mesmo a água fria, a camiseta leve, e o short que não chega a metade das minhas coxas, são capazes de atenuar o calor das noites de outono.

O quarto está vazio, como de costume. Todos os dias tenho este momento de privacidade antes de ir para cama; enquanto tomo meu banho, Rafi abandona o quarto indo desfrutar do bar ou academia do hotel.

Nem sequer minha atitude suspeita com Fernán hoje pela manhã foi capaz de o impedir.

Talvez, não tão suspeita assim. Respiro aliviada.

Estou com fome, de ovo frito. Durante todo meu tempo aqui, tenho sido bem alimentada pelas refeições do hotel, todavia, sinto falta das comidas simples preparadas por mim no dia a dia.

Caminho até a cozinha, mas logo ouço o trinco da porta do quarto sendo aberto.

Paro assustada, vendo Rafi entrando impaciente junto a dois homens. Seu humor ainda não parece bom, enquanto resmunga algo nervoso, antes de parar em minha frente, olhando-me da cabeça aos pés lentamente.

Acompanho o caminho do seu olhar, avaliando meus pés descalços até subir e encontrar com o par de olhos  verdes que me encaram zangados.

— Ham-ham!

Um pigarrear atrás dele chama sua atenção, que parece tornar a si, me dando as costas, irritado.

Corro dali sentindo minhas pernas bambas e  seu olhar de relance sobre os ombros em minhas costas, enquanto enxuga com uma toalha o rosto suado após o treino.

Como pode ser tão desestabilizador? Questiono andando abalada pelos espaços da cozinha americana, até lembrar o que eu desejava comer e o pegar na geladeira. Seu olhar invasivo era um misto carnal e hostil ao mesmo tempo.

Algo ainda o enfurece.

Mantenho-me alerta enquanto quebro o ovo na frigideira e tento ligar o Cooktop, mas os queimadores não funcionam.

Verifico o registro e mangueira do gás, onde aparentemente tudo está ok. Continuo averiguando e apesar da minha inexperiência com esse tipo de fogão, ter tido um pai eletricista facilitou um pouco minha vida com aparelhos elétricos e logo desvendo o problema, o cabo de alimentação está danificado.

O dia realmente não está ao meu favor! Praguejo dando um tapa em minha testa, acertando diretamente no galo. Merda!

Vasculho a cozinha procurando por um fósforo ou qualquer outra coisa que acenda a chama mecanicamente, até ser atraída pela conversa alheia outra vez.

A falha de Fernán, meu possível futuro aliado, ainda não parece bem digerida pelos outros que desejam seu afastamento.

Não pode ser!

Abandono o que fazia e corro me aproximado de um canto mais escondido na sala onde estão, para espiar novamente, feliz por não haver nenhuma porta assassina em meu caminho.

— Al-Samarrai possui sósias. Fernán fez o que pode. — Rafi rebate.

Suspiro aliviada. Apesar das estranhezas, ele realmente parece muito necessário a ponto de Rafi o defendê-lo para os outros e não o dispensar. Isso é tudo o que preciso.

Pergunto-me se será  tão compreensivo comigo caso descubra a traição. Arrepio-me até o último fio de cabelo e me apresso em afastar esse pensamento.

— Como fez tudo que pode? Estávamos com as mãos em Al-Samarrai e ele o deixou escapar novamente! — Um grisalho dentre os dois homens, ralha irritado, mas Rafi o repreende negando com a cabeça, enquanto descansa suas mãos na cintura, evidenciando sua bunda na calça preta esportiva.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora