Capítulo 2 - Émile

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— Olá! Aqui é o Eduardo. Você está bem? — Eram 19h45min da noite. Li a mensagem enviada às 08h30min da manhã confusa, não reconhecia aquele número e, muito menos, me recordava de alguém chamado Eduardo.

Quem é? — Respondi a mensagem sem querer dar nenhuma resposta sobre meu estado. Acredito ter sido um engano, e também, a última coisa que desejava naquele momento, era falar sobre como me encontrava.

Olhei para minhas mãos que doíam um pouco, haviam leves marcas arroxeadas nas palmas. Mas, não se comparava a dor que sentia em meus joelhos, o impacto sobre eles durante a queda foi grande. Ainda assim, passei metade do dia em pé, com minha calça branca marcada pelo chão, atendendo aos clientes na lanchonete onde consegui um trabalho de meio período, em troca de meio salário, é claro. No entanto, era útil para mim, conseguia ajudar com as despesas da casa e faculdade, pois, mesmo que tenha conseguido uma bolsa, tinha os gastos extras.

Meu celular vibrou.

Desculpe-me. Não me apresentei direito. Conhecemo-nos na reunião que realizei hoje mais cedo. Sou Eduardo Álvares, foi um prazer lhe conhecer, Anália.

Ouvi Émile vindo atrás de mim.

— Ei, Anália! O que foi? — Ela estava colocando as compras que acabáramos de fazer para dentro de minha pequena suíte. Decidi ignorar a balança e aceitar o seu convite de assistirmos nossa série favorita com sorvete e comidas de fastfood para que eu pudesse me animar um pouco.

Apesar de ter rido muito quando relatei o meu ocorrido, ela estava comigo para me ajudar. E agora parecia preocupada, pois, joguei o aparelho sobre a cama, precisando tirá-lo imediatamente das minhas mãos, como se estivesse em chamas.

Não... Ele não... Sinto-me tonta.

— Hum... É... O homem da reunião de hoje mais cedo. — Tentei agir casualmente, pegando o que havia acabado de arremessar sobre a cama, lutando contra minha voz que estava quase trêmula.

— O Eduardo Álvares? — Ela já sabe? Deduzi que ele se apresentou no início da reunião, e eu era a única a não saber seu nome, devido ao meu triste atraso. Ela se aproximou, e então dos seus 1,70 metros olhava para mim com 15 centímetros a menos, bem de cima. Como se tentando me ler.

— Sim, ele está falando comigo agora. — Fiquei satisfeita por minha voz não entregar minha inquietação.

Observei-a esperando que esboçasse alguma reação. Porém, a única coisa que vi, foi um olhar incrédulo em seu rosto.

A pessoa que eu mais desejei nunca ter conhecido, foi Eduardo. Eu tentei durante todo o dia ignora-lo no meu pensamento, é claro, inutilmente. Mas, eu queria aliviar a dor da vergonha que sufocava em meu peito.

Por vezes, quando não estava recordando o olhar perplexo em seus olhos, eu o xingava e o culpava pelo que me aconteceu, se não tivesse me convidado para sentar naquela maldita cadeira, se não tivesse me barrado e falado comigo antes de sair... Eu imaginava tudo que poderia ter sido evitado, mas não adiantava, eu caí, e não tinha como voltar atrás.

No entanto, não podia negar que meu coração saltou ao saber quem era. Apesar de querer quebrar o celular e nunca mais ouvir falar sobre ele, eu também sentia uma pontada de alegria vendo que aquele homem estava me enviando mensagens. Ainda que fosse apenas por preocupação e que isto provavelmente nunca mais se repetiria, eu precisava aproveitar o momento em que pela primeira vez recebia atenção de alguém tão atraente. Era nobre o que ele fazia, e senti novamente uma pontada de remorso pela maneira que encerrei a conversa pela manhã.

Você é muito bom. — Digitei ainda tão comovida por seu gesto, que enviei sem pensar duas vezes.

Droga! Porque fiz isso?

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora