Capítulo 24 - Dúvidas

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Não tenho mais lágrimas. Apenas soluços me estremecem quando ergo minha cabeça para olhar em redor, e encontro os olhos profundos e inexpressíveis de Rafi, ainda sobre mim.

Não sei por quanto tempo estive assim, isso também não tem importância, minha mente e meu corpo parecem dormentes e entorpecidos pela dor de todos os últimos acontecimentos e descobertas. No entanto, confesso que imaginei que por todo esse tempo, ele me daria um pouco de espaço.

Remexo-me no sofá sentindo minha bexiga apertar. Gostaria de permanecer encolhida em meu casulo pessoal e continuar ignorando o caos em meu redor assim como ele, mas os três copos com água que bebi começam a fazer efeito.

Pauso notando que meu breve movimento despertou ainda da mais sua atenção.

Mesmo sem querer dirigir-me a ele, temo que acredite ser uma nova tentativa de fuga.

— Preciso ir ao banheiro. — Digo a contragosto, julgando isso como suficiente para que eu receba um pouco de privacidade.

Ponho os pés no piso frio, deambulando pelo quarto enorme, procurando pelo banheiro, até que sinto seus passos atrás de mim.

— Eu não vou fugir. — afirmo virando-me para ele.

Ele assente sem dar importância ao que digo.

— Você não vai... — Indico para dentro do banheiro, apavorada. Serei mesmo vigiada 24h!?

— Não. — Nega rude. Seu desprezo com minha suposição é evidente  — Ficarei aqui lhe esperando. — Pausa em frente a porta.

— Aqui? — Olho para ele indignada. Mesmo no lado de fora, continua sendo invasivo. Não mereço ser vigiada como uma criminosa.

— Sim, aqui. — Confirma irredutível, me fazendo entender que não sairá ainda que eu proteste. — É bom que não tente nada novamente, Anália.

Assinto adentrando o banheiro, derrotada. Ele não baixará sua guarda um instante, sou sua prisioneira agora.

Fecho a porta atrás de mim, observando o banheiro espaçoso e o luxo em cada detalhe dele, que só contribui para que eu me sinta ainda mais perdida e desconfortável aqui dentro. Não é um hotel qualquer. Pergunto-me por quanto tempo pretende me manter aqui, imagino que breve, pois, a estadia deve custar uma fortuna incalculável para meu raciocínio, e a minha está sendo paga com dinheiro sujo. Recuso-me acreditar que Bruno esteja envolvido nisso.

Noto atônita, que até a chave foi retirada da fechadura, eu não tenho um pingo de sua confiança.

Sento-me no vaso, finalmente liberando a urina que sai como um jato me deixando envergonhada com seu barulho. Será sempre assim? É impossível estar à vontade enquanto sei que ele está plantando no lado de fora. Respiro fundo aliviada que meu intestino não desejou iniciar suas atividades agora.

Levanto-me retirando seu suéter, ainda acanhada por me despir nesse espaço desconhecido sabendo que ele pode entrar pela porta a qualquer momento, evitando olhar meu reflexo no espelho imenso a minha frente. Não sei como conseguirei encarar-lhe, sabendo que ele me viu nesse estado e que fui usada por ele.

Recordo-me das vezes que me chamou de linda, e até ousou dizer que eu era sexy, sendo na verdade tudo parte de um teatro.

Vislumbro rapidamente meu corpo esguio coberto por sardas e me pergunto como me deixei iludir dessa forma, acreditando em seus elogios que me incluíam nos estereótipos brasileiros. Desde quando eu me encaixo no alto padrão de beleza daqui, se nem ao menos um corpo esculpido eu tenho?

Corro para dentro do boxe tentando amenizar meu constrangimento. Olho para a grande jacuzzi, imaginando como seria relaxante desfrutar dela em outras ocasiões , mas considerando que estou presa e meu irmão em apuros, isso seria impossível.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora