Capítulo 62 - Reencontro

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Seguro o cartão em mãos e por um momento, me imagino correndo porta afora, entrando no primeiro ônibus ou táxi que passar e indo encontrar minha avó que procura por mim e Bruno. Mas, de que adianta ser livre e viver como uma fugitiva?

Retiro essa ideia de minha cabeça e o guardo na farmacinha, entrando debaixo do chuveiro em seguida.

Enrolada em um novo roupão agora limpo, abandono o banheiro e vou até o closet, escolhendo uma roupa de dormir.

Na cama, Rafi ainda dorme, mas ao contrário da forma que o deixei, suas sobrancelhas agora estão unidas, sua testa enrugada, e os lábios retraídos enquanto estremece sobre a cama.

Largo meu babydoll de qualquer jeito e me apresso sentando ao seu lado, tocando seu rosto para que se acalme. Traço um caminho por sua testa, descendo pelas mandíbulas angulares e queixo, porém, seu corpo se agita e o som dos seus dentes se chocando um contra o outro se torna audível, seguido de um soluço deprimente.

- Rafi - O chamo para o livrar do pesadelo que visivelmente está preso, mas ele parece não me ouvir - Rafi - Insisto, mas, desta vez, seus murmúrios se transformam em grunhidos altos e sofridos que escapam dos lábios semicerrados.

Não sei como o tirar dessa dor. Dou leves tapas em seu rosto para o trazer de volta, mas minha atitude impensada é interrompida de forma brusca por seu grito violento e num gesto rápido suas mãos estão cravadas em meus pulsos.

- Rafi! - Grito assustada, sem conseguir me desvincular. - Rafi, sou eu! Anália! Sou eu... Sou eu...

Pouco a pouco, seu aperto diminui e então ele volta a dormir pacificamente.

Suspiro lentamente soltando o ar preso em meus pulmões com o susto, notando em sua boca um sorriso que começa a se formar.

- Ane... - sua voz soa rouca enquanto abre os olhos sonolentos. - Você veio me salvar... Você é meu anjo.

Meu corpo estremece.

- Do que você me chamou?

Seus lábios se contorcem deixando os dentes perfeitos a mostra, enquanto sinto sua mão envolver minha bochecha.

O cochilo agitado de minutos, parece ter afastado um pouco sua embriaguez. Embora sua fala ainda seja um pouco arrastada, ele aparenta estar tão lúcido agora, quase sóbrio.

- Ane. Doce Ane.

Agradeço estar sentada, pois, sinto minhas pernas oscilarem e minha respiração se tornar difícil.

- Você se lembrou? Pensei que tivesse esquecido. Que nunca mais te ouviria me chamar assim novamente.

- Como eu poderia esquecer o nome de um anjo?

- Rafi, você se quer tem pronunciado meu nome nos últimos dias! Eu sou totalmente desprezível pra você!

- Não! - Fala tomando minha mão na sua, levando até seu peito. - Eu sei que não sou fácil de entender... Que é difícil quando digo que seu nome, seu cheiro, seu toque, sua presença, são insuportáveis para mim... Mas é. - O ouço suspirar fundo e fazer uma pausa. - Você não imagina como é difícil pronunciar seu nome e não te chamar de amor. Sentir seu toque e não poder tatear seu corpo e te dar prazer de todas as formas que você merece... sentir seu cheiro e não poder tê-lo gravado em mim nem por um minuto...

Minha visão fica turva e eu reprimo um soluço me obrigando a não chorar diante de seus olhos ternos, os olhos que se parecem muito aos do Rafi que eu amo. O Rafi gentil que eu conheci.

- Você acha que ajudei na morte do Henry.

- Mesmo assim não consigo mudar o que sinto por você desde a primeira vez que te vi. Você era a única coisa pura, boa e frágil por quem eu deveria lutar e isso me fez sentir que eu poderia ser bom novamente, que eu teria salvação. Eu vivo em trevas, Ane. Desde que perdi minha família, tudo a minha volta é dor, morte, ou impulsos que fazem eu me sentir mais impuro do que já sou. Mas quando estou com você, eu sinto algo diferente de tudo isso. E sentir isso é como estar mais perto da luz. Eu esperei por você por tanto tempo...

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora