Capítulo 75 - Óbice

87 10 9
                                    

Minhas pernas parecem de pano quando Rafi me levanta do chão e me carrega para dentro do helicóptero.

- Eu nunca voei antes... - Murmuro, vendo-o afivelar o cinto em volta de minha cintura e colocar um fone com microfone nos meus ouvidos.

- Vai ficar tudo bem, você está segura agora.

Aceno com a cabeça, mas não me sinto segura. Depois de tudo que passei, estar em um veículo no ar é como esperar a morte. Meu coração está acelerado, e minha boca seca.

- Jeff, cuide da Anália, e leve ela para mim... - Suspira tocando no ombro do homem que nos acompanha. - Não posso ir sem os outros.

Arregalo os olhos sem acreditar no que ouvi. Como assim ele não vai? Sinto um aperto no peito e minha respiração fica ofegante.

O homem prestes entrar no helicóptero, me lança um olhar mortífero antes de se voltar para Rafi.

- Não acho que ela deva ser protegida por nós. Tudo que aconteceu, estamos nesse maldito país por culpa dela e da família dela. Ela deveria ficar e passar o mesmo que o Henry sofreu nas mãos daqueles monstros! Ele era como seu pai! - Jeff diz, com raiva na voz.

- Não! - O moreno fecha os olhos enquanto aperta o ombro de seu soldado com tanta força, que parece ao ponto de deslocá-lo. Congelo em meu lugar, esperando sua reação, que parece dentro de um transe. A mesma expresso de dor que havia em nossa última ligação, no dia do seu aniversário e do sumiço do Henry.

Suplico em pensamento, pedindo que Deus o guie para a coisa certa, mas como vai fazer isso quando tudo dentro dele é apenas cede de justiça?

Independente do que o impediu de se livrar de mim até agora, Jeff lhe mostrou um ponto interessante. Não seria só um acerto de contas, mas uma vingança a altura do que eu supostamente fiz com seu pai de consideração.

- Você não serve para isso! - Rafi responde rude, entrando no helicóptero, após empurrar o homem para o lado, deixando-o para trás.

Suspiro aliviada, mas insatisfeita. Independentemente de ainda estar viva, eu sou vista como a causadora da desgraça por todos aqui. Sinto-me desconfortável, e deslocada.

Jogo minha cabeça para trás, sentindo o oscilar do veículo prestes a decolar. Rafi já tomou seu lugar ao lado do piloto, um senhor grisalho que parece o tranquilizar sobre o cair da noite, avisando que esse horário nunca foi um problema para os seus anos de experiência aérea.

Fecho os olhos tentando me convencer que agora tudo está sob controle, mas sinto que não estou bem.

Ontem a noite, eu precisei usar de uma força que não sabia que tinha, para segurar meu medo, minha raiva e meu choro. Hoje, acordei tendo que lidar com uma fuga e agora que a adrenalina se dissipa, meu corpo começa a fraquejar.

Quando o helicóptero levanta voo, olho para baixo pela janela e tento manter a calma, absorvendo a paisagem deslumbrante. A vista é de tirar o fôlego, literalmente, e sinto minha respiração ficar fraca junto a uma náusea crescente no estômago.

Eu tento a controlar, me concentrando na respiração, mas é inútil.

Meu corpo começa a tremer violentamente enquanto a minha garganta se aperta. Sinto um gosto amargo subir para a boca e tampo com força, sem querer causar mais problemas.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora