Capítulo 52 - Bilhete

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Não foi um favor. Repito suas palavras em minha cabeça enquanto caminho para o quarto.

Então o que é? O que pretende me salvando e me deixando aqui, se já tem a resposta que queria?

Abro o closet procurando algum casaco para me livrar do frio repentino que arrepia meus pelos.

Não consigo pensar em uma resposta óbvia ou positiva, por isso sinto medo.

Tento manter o pensamento leve, mas inúmeras suposições se passam em minha cabeça.

Não se vingar de mim, talvez pareça algo pouco interessante para ele, e me vender para algum prostíbulo seja mais lucrativo.

A suposição me faz escolher alguma roupa larga e longa as pressas, junto a um cardigã de lã branco, que o uso abotoado até o pescoço, por cima de um vestido florido.

A ideia é ficar o menos atraente possível, não que isso seja uma tarefa difícil.

Logo depois, me enfio debaixo do cobertor, torcendo para que ele esqueça minha existência nesse lugar.

***

Quatro dias depois, me sinto um pouco melhor para sair de meu casulo.

Não é como se o pensamento anterior tivesse me abandonado, longe disso, 6h atrás, fui surpreendida com alguns minutos de pânico quando esqueci momentaneamente minha possível sentença, e me dei ao luxo de sair da cama usando apenas um confortável Baby Doll de seda rosa.

Quando atentei para Rafi, sentando num dos sofás da sala com os olhos cravados em mim, tive um mini infarto e corri para o banheiro e por lá fiquei até meus batimentos cardíacos e respiração normalizarem, o que levou um pouco de tempo.

Estava anotando minhas características físicas, para buscar interessados em seu novo objeto de venda ilícita?

Sacudo a cabeça repetidas vezes afastando esse pensamento terrível.

- Pare, Anália... Pensar nisso, apenas te deixará para baixo. - Afirmo fechando o zíper de minha jaqueta listrada, que já começa a me incomodar devido ao clima seco e quente dos últimos dias.

Não estou descartando a possibilidade, na verdade, sou como um condenado caminhando em direção a sua pena de morte, não há muito o que fazer e chorar antecipadamente apenas prolonga o tempo de sofrimento.

Isso também não quer dizer que estou aceitando os fatos, pelo contrário, já recolhi uma caneta, que estava guardada dentro da caderneta que Rafi abandonou sobre a mesa de centro da sala de estar e também arranquei uma de suas folhas, para escrever minha súplica, pedindo que não me leve daqui.

Irei arriscar um bilhete, vendo que nossa animosidade é grande demais agora que sou sua inimiga confessa, para fazer isso pessoalmente.

Giro nervosamente a caneta entre os dedos. Procuro afagar um pouco seu ego nas primeiras linhas para que isso aplaque sua ira e esse papel não se torne em dezenas de pedaços no lixeiro, antes que ele conclua a primeira linha.

"Justo e bondoso Rafi..."

- Horrível! - Resmungo rabiscando o que acabei de escrever.

"Querido Rafi..."

- Agora ele me mata!

Apago novamente o que fiz com mais um risco e respiro fundo.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora