Capítulo 43 - Pós Noite

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Mais uma vez, um arrepio do pavor me percorre enquanto tento, inutilmente, tatear no escuro para me safar dos passos que se tornam cada vez mais audíveis.

A escuridão parece tão densa que impede minha respiração, assim como minhas tentativas de pedir socorro, a voz parece presa em minha garganta.

Ouço os rugidos que se tornam cada vez mais altos e todo meu corpo treme fazendo minhas pernas desfalecerem e desabarem no chão áspero que não consigo ver.

Tento reprimir meu choro, mas é impossível. Estou cansada de correr, eles sempre me alcançam, é inútil pedir socorro, ninguém me ouve.

Estou desesperada e sozinha e tudo que me resta agora é segurar-me contra minhas pernas e me deixar ser sacudida pelos soluços que cortam minha garganta, assim como meus gritos de pavor.

O suor escorre frio por meu rosto, enquanto ponho minha cabeça entre os joelhos e aperto os olhos com força, como se isso fosse capaz de afastá-los de mim, mas, pelo contrário, sinto a presença que se aproxima e se põe ao meu lado tocando meu ombro.

Não consigo me mover, e nem quero. Essa presença é diferente das outras, não esta aqui para me machucar, pelo contrário, sinto-me protegida. Fico a cabeça com força em seu peito quando sou posta em seus braços e arrastada para longe de tudo isso.

Meu coração está acelerado, como se minhas pernas fossem as suas que correm, e nosso coração um só. Estamos indo muito rápido e logo estamos descendo em direção ao vazio.

Abraço-me contra seu corpo, enquanto uma forte luz nos envolve e continuamos descendo...

Puxo o ar pela boca com força enquanto abro olhos me sitiando onde estou.

Tento acalmar minha respiração, olhando em volta as paredes cor creme, e as cortinas azul-celeste onde os primeiros raios de sol atravessam por entre elas, iluminando o quarto.

Suspiro ainda atordoada. Foi apenas mais um pesadelo agonizante. Porém, extremamente incomum dessa vez.

Sento-me na cama, sentindo minha cabeça girar com uma dor terrível.

Droga... Eu passei do limite ontem na bebida...

Meu corpo ainda está trêmulo pelo medo e agora me recordo o assédio que sofri na noite passada.

Que terrível!

O álcool me fez perder a noção do perigo no momento, mas agora sóbria, percebo o risco que corri e não sei o que teria sido de mim se Rafi não tivesse intervindo e afastado Vicente.

A verdade é que ele me surpreendeu e foi um verdadeiro cavalheiro a noite passada. Sem nenhuma pretensão, superou meus medos e expectativas e fez com que o momento se tornasse especial.

Levanto-me e caminho a passos lentos até a sala, com o coração pesado.

Embora eu não devesse, sinto-me pesada demais em traí-lo.

E se eu não conseguir despistar Fernán? Se ele exigir contato com Al-Samarrai? Bruno e eu não teremos outra alternativa a não ser ceder o que pede, e isso fará de mim o verdadeiro monstro que acredita que sou.

Encosto-me a parede, próximo a onde ele repousa no sofá e aperto as mãos contra minha cabeça que lateja violentamente.

Não sei o que se passa em minha cabeça nesse momento, mas tudo que desejo é desistir desse plano. Longe daqui, posso localizar meu irmão com a ajuda da polícia.

Independente dos anos de pena, ser preso é melhor que ser executado por um rival.

Vasculho em meu redor, tentando fazer o mínimo de barulho, enquanto procuro pelo cartão-chave que dá acesso à porta.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora