Capítulo 78 - Vertigem

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Quando abri meus olhos pela manhã, suspirei aliviada. Embora o tempo estivesse nublado, podia ver que o sol estava alto no céu por trás das nuvens, já havia passado o horário do café da manhã, e Rafi não me chamou.

Ele finalmente estava me deixando. Era o que eu queria. Mas, de certa forma, precisei repetir isso para mim mesmo constantemente, até minha mente parar de esperá-lo também na refeição do meio-dia.

Eu me sentia perdida, mas também, empoderada. Consegui que um homem irredutível cedesse. Aquilo me deu uma sensação de poder. Eu não era tão frágil, nem o dragão tão invencível como parecia. Ele perdeu e era eu quem ditava as regras agora.

Eu pensei em diversas possibilidades de como sairia daqui, inclusive, de estar em uma ilha, e pra isso eu precisaria chegar até a costa e conseguir fazer sinal de fumaça quando avistasse alguma embarcação, ou helicóptero, que com sorte, não fosse dele.

No entanto, no momento o que parece estar prestes a levantar fumaça, é meu cérebro. Eu quase posso o ouvir chiar como uma panela de pressão enquanto me sinto impaciente e solitária.

O tempo esfriou e meu coração também parece gelado e sem vida.

Mas, de uma coisa estou certa: por mais que eu queira, não posso mais ceder a tristeza e chorar meu destino.

Decido por abrir ainda mais as cortinas e deixar que a maior quantidade de luz solar me atinja.

Todavia, como um vampiro queimando no sol, quando olho para baixo, sinto parte de minha motivação prematura, se derreter. Um pouco a frente, a alguns metros de minha janela, Rafi está desferindo golpes de boxe em um dos seus soldados. Ele está sem camisa e com um short esportivo azul-marinho que salienta sua bunda definida, ainda desta distância. É impossível não notar, mesmo contra minha vontade.

Afasto-me para o canto entre a parede e a vidraça, para observar mais um pouco os seus movimentos vigorosos e rápidos, que desenham a cada golpe, o músculo trapézio e latíssimo dorso em suas costas largas.

Percebo que estou observando demais e há tempo demais aqui. Talvez ser uma estudante de enfermagem, justifique minha fascinação por essa arte anatômica.

Seus ataques seguem tão frenéticos e descontrolados, que ambos tem dificuldade de se esquivar um do outro. Isso não é um treino, mas uma sessão de alívio. Ele parece fora de si e usa o homem como saco de pancadas, na falta de um.

Muitos comentam sobre um sexto sentido das mulheres, mas Rafi também parece o possuir, e como se o diabo houvesse sussurrado em seu ouvido que estava sendo observado, ele ergue os olhos em minha direção, encontrando os meus.

Dou as costas e me afasto bruscamente, batendo com força os pés no chão.

Quem ele pensa que é? Ele disse que me deixaria em paz, mas de todos os lugares que ele poderia estar, decidiu treinar perto de minha janela, às minhas vistas!

Ele quer minha atenção? Que eu o veja? Provar que está seguindo sem mim?

Vou até o mini bar, dando alguns goles na garrafa de vodka, num acesso de fúria. O sabor do álcool ainda não é familiar para mim. Ele arde em minha garganta e parece ferver meus neurônios, e é por isso que recorro a ele mais uma vez, sentindo o líquido quente descer rasgando goela abaixo.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora