Brian
Abro espaço entre as pessoas, tentando andar um pouco mais rápido. Meus pés já sabem o caminho que devem seguir de cor, de tanto que o fazemos. Paro em frente ao prédio de vinte e três andares, vendo a imensidão dele e a forma como parece reluzir em meio aos outros.
Meus dedos se esticam para apertar o interfone, mas o portão de ferro se abre antes que eu conclua minha ação. Entro no prédio, batendo o portão atrás de mim. Cumprimento o porteiro, que está careca de me ver, por isso, nem se dá ao trabalho de avisar que estou subindo.
Dentro do elevador, penso se estou fazendo a coisa certa em estar aqui, mas enterro esse pensamento quando bato na porta do apartamento 35, ouvindo um "já vai".
Ele me examina de cima a baixo, como se procurasse alguma cicatriz ou machucado em meu corpo. Bato o pé.
— Posso entrar ou você vai me deixar do lado de fora? – pergunto, impaciente.
— Suponho que eu deva perguntar como você está? – ele retruca, arqueando uma de suas sobrancelhas grossas para mim, fazendo meu coração bater mais rápido.
— Me deixe entrar – peço.
Com um suspiro, ele sai da porta e entro no apartamento dele.
Sinto algo aos meus pés, me impedindo de andar e olho para baixo, vendo Paçoca roçar seu corpo peludo em mim. Paçoca é um gato da raça Scottish Fold, ele tem um ano e meio e é o bichinho mais carente que eu já conheci, mesmo sendo um gato. Pego-o no colo, acariciando seu pelo cinza, escutando seu ronronar.
Me sento no sofá, ignorando o silêncio no ambiente, e a forma como tudo parece um pouco mecânico. Eu e ele não somos assim.
— Vai me dizer que só o Paçoca sentiu minha falta? – pergunto a ele, que senta ao meu lado, me dando um sorriso de felicidade mais falso que nota de três reais.
— Por que veio? – devolve, ficando sério.
Dou de ombros.
— Com qual dos seus irmãos você brigou, dessa vez? – ele insiste.
— Guilherme... — digo seu nome, tentando fazer com que ele se desarme um pouco. — Vim porque senti sua falta.
O que eu digo não é uma mentira completa, mas não é uma verdade, também.
Ele me encara com desinteresse, mostrando que não acreditou no que eu disse.
— E também porque briguei com Emily e com Scott – completo e ele assente.
— Agora faz mais sentido — é irônico. — Brigaram por quê?
Conto a ele tudo que aconteceu.
Guilherme e eu nos conhecemos na minha festa de formatura do 3° ano do Ensino Médio, por intermédio de um amigo que temos em comum. Logo começamos a conversar e vimos que gostávamos das mesmas coisas, fazendo a amizade se fortalecer. Fomos para a mesma faculdade, mas fazendo cursos diferentes. Enquanto eu escolhi odontologia, que é a minha paixão, Guilherme escolheu jornalismo, que combina com seu jeito dramático do qual eu tanto gosto.
O tempo passou e nossa amizade cresceu, mas no final do ano passado, as coisas começaram a mudar entre nós. Passamos a virada do ano juntos e com alguns outros amigos no apartamento de Guilherme e depois de muitas cervejas, todo mundo já estava um pouco alto.
Quando deu meia-noite, nos beijamos.
Foi algo completamente inusitado, nunca havia reparado em Guilherme de outra forma senão como um amigo. Claro, sempre achei ele um homem bonito, Guilherme é alto, com ombros largos, negro de pele clara, olhos castanhos e corpo de quem frequenta academia. O sorriso Colgate e sua cara de quem não vale nada sempre foram seus maiores atributos, mas comecei a reparar nele de forma diferente, assim como ele em mim.
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Do Nosso Jeito - CONCLUÍDA
Teen Fiction"Se eu pudesse tirar essa dor de você eu tirava, mas não posso, infelizmente. Tudo o que posso fazer é te ajudar a criar novas boas lembranças, deixe-me fazer isso, Emily" 🍁 Sinopse inserida no livro ⚠ Este livro contém gatilhos relacionados a estu...