Capítulo 57

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Brian

Abro espaço entre as pessoas, tentando andar um pouco mais rápido. Meus pés já sabem o caminho que devem seguir de cor, de tanto que o fazemos. Paro em frente ao prédio de vinte e três andares, vendo a imensidão dele e a forma como parece reluzir em meio aos outros.

Meus dedos se esticam para apertar o interfone, mas o portão de ferro se abre antes que eu conclua minha ação. Entro no prédio, batendo o portão atrás de mim. Cumprimento o porteiro, que está careca de me ver, por isso, nem se dá ao trabalho de avisar que estou subindo.

Dentro do elevador, penso se estou fazendo a coisa certa em estar aqui, mas enterro esse pensamento quando bato na porta do apartamento 35, ouvindo um "já vai".

Ele me examina de cima a baixo, como se procurasse alguma cicatriz ou machucado em meu corpo. Bato o pé.

— Posso entrar ou você vai me deixar do lado de fora? – pergunto, impaciente.

— Suponho que eu deva perguntar como você está? – ele retruca, arqueando uma de suas sobrancelhas grossas para mim, fazendo meu coração bater mais rápido.

— Me deixe entrar – peço.

Com um suspiro, ele sai da porta e entro no apartamento dele.

Sinto algo aos meus pés, me impedindo de andar e olho para baixo, vendo Paçoca roçar seu corpo peludo em mim. Paçoca é um gato da raça Scottish Fold, ele tem um ano e meio e é o bichinho mais carente que eu já conheci, mesmo sendo um gato. Pego-o no colo, acariciando seu pelo cinza, escutando seu ronronar.

Me sento no sofá, ignorando o silêncio no ambiente, e a forma como tudo parece um pouco mecânico. Eu e ele não somos assim.

— Vai me dizer que só o Paçoca sentiu minha falta? – pergunto a ele, que senta ao meu lado, me dando um sorriso de felicidade mais falso que nota de três reais.

— Por que veio? – devolve, ficando sério.

Dou de ombros.

— Com qual dos seus irmãos você brigou, dessa vez? – ele insiste.

— Guilherme... — digo seu nome, tentando fazer com que ele se desarme um pouco. — Vim porque senti sua falta.

O que eu digo não é uma mentira completa, mas não é uma verdade, também.

Ele me encara com desinteresse, mostrando que não acreditou no que eu disse.

— E também porque briguei com Emily e com Scott – completo e ele assente.

— Agora faz mais sentido — é irônico. — Brigaram por quê?

Conto a ele tudo que aconteceu.

Guilherme e eu nos conhecemos na minha festa de formatura do 3° ano do Ensino Médio, por intermédio de um amigo que temos em comum. Logo começamos a conversar e vimos que gostávamos das mesmas coisas, fazendo a amizade se fortalecer. Fomos para a mesma faculdade, mas fazendo cursos diferentes. Enquanto eu escolhi odontologia, que é a minha paixão, Guilherme escolheu jornalismo, que combina com seu jeito dramático do qual eu tanto gosto.

O tempo passou e nossa amizade cresceu, mas no final do ano passado, as coisas começaram a mudar entre nós. Passamos a virada do ano juntos e com alguns outros amigos no apartamento de Guilherme e depois de muitas cervejas, todo mundo já estava um pouco alto.

Quando deu meia-noite, nos beijamos.

Foi algo completamente inusitado, nunca havia reparado em Guilherme de outra forma senão como um amigo. Claro, sempre achei ele um homem bonito,  Guilherme é alto, com ombros largos, negro de pele clara, olhos castanhos e corpo de quem frequenta academia. O sorriso Colgate e sua cara de quem não vale nada sempre foram seus maiores atributos, mas comecei a reparar nele de forma diferente, assim como ele em mim.

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