Capítulo 15 + desabafo da autora

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Emily

Domingo

Sinto alguém me sacudir, mas permaneço parada, tive uma péssima noite de sono e só consegui dormir quando já eram sete e pouca da manhã.

— Emily, eu sei que você está acordada! – Hugo diz ainda me balançando, vejo que Scott está com ele e com uma cara de quem não tinha dormido nada.

Bom, pelo menos não sou a única.

Bufo rendida e me sento na cama, fazendo uma nota mental de trancar a porta da próxima vez.

— Se vocês não perceberam, eu estava dormindo!

— Foda-se. Posso saber o motivo da senhorita não ter ligado para a gente ontem? Por que eu tive que ficar sabendo o que aconteceu pelo Oliver e não por você? – Hugo esbraveja e eu encolho os ombros.

Então é isso.

— Isso no seu braço é um roxo? – Scott agarra meu pobre braço e eu contenho um gemido, ainda está um pouco dolorido.

— A gente não pode simplesmente matar esse filho da puta? – Hugo retoma.

— Dessa vez eu tenho que concordar com você, esse garoto merece uma surra, ou um tiro. Ainda não me decidi – o mais velho diz.

— Você não vai falar nada, Emily!? – Hugo se vira para mim.

Contenho um suspiro.

— Eu não tenho o que dizer – encolho novamente os ombros.

— Você tem que prestar queixa, Emily. – Hugo revira os olhos, como se estivesse me dizendo o óbvio, o que, de fato, até poderia ser.

— Se por muito mais do que ontem o Garret nunca foi punido, imagina por tão pouco?

— Por tão pouco?! Seu braço está com a porra de um roxo e isso é pouco?! – Hugo tenta segurar meu braço para exemplificar, mas desvio.

— Sim, Hugo. É pouco, sabe por quê? — me viro para ele e nem tento conter as lágrimas. — Porque eu sou a porra de uma garota! E ser mulher no Brasil e nesse mundo é a mesma coisa de dizer que minha opinião não vale de nada! — explodo. — Vocês sabem quantas vezes eu tive de ir a delegacia? Sabem!? — Como nenhum dos dois se pronuncia, eu continuo. — Foram sete vezes! Eu fui sete vezes até realmente conseguir prestar queixa e fazer a denúncia! Sendo que, no fim, quem saiu, novamente, como errada e mentirosa fui eu! Porque a porra dos pais do Garret são importantes e ricos e aí fizeram o caso ser arquivado. Eu tinha e tenho provas, mas tudo foi ignorado, como se não fosse nada, como se eu não fosse nada! Essa é, de longe, uma das piores sensações do mundo.

Ser mulher é uma merda.

— Sinto muito. – Meu irmão mais novo diz, me puxando para um abraço, onde me deixo ser embalada.

— Não chore, mana, você não tem culpa de nada — Scott faz carinho no meu cabelo e eu me sinto um cachorrinho —, é esse nosso sistema de merda. Você tem mais é que se orgulhar, passou por tudo isso com esse filho da puta do Garret, ao mesmo tempo que morava com o bosta do nosso pai e mesmo assim não desistiu, só mostra o quão foda você é. — E lá vou eu chorar de novo. — Eu espero que um dia, a justiça chegue, só isso.

Caímos no silêncio novamente até que eu consiga me acalmar.

Agradeço a Deus mentalmente por ter me presenteado com irmãos não escrotos ao ponto de duvidar de mim ou dar razão ao Garret.

— Como você conseguiu fazer com que ele te soltasse? – Scott pergunta

— Apliquei um golpe de autodefesa nele – dou de ombros e o vejo sorrir, claramente orgulhoso.

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