Capítulo 31

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Oliver

Eu estaria mentindo se dissesse que estou confiante.

Confiar todo o plano nas mãos do meu pai, ou no amor dele por Ana, é quase uma burrice, se não uma total certeza. Meu pai é um homem sem muitas atitudes, muitas vezes medroso demais.

Quando ele decidiu se separar da minha mãe, ela não acreditou nele, achou que não passava de um blefe. Nem eu acreditei, muito menos Anitta. Ninguém poderia nos culpar, Pedro sempre foi mais conhecido por falar, do que por agir.

Sentado aqui, na sala do apartamento dele, às quatro da manhã de uma quinta-feira, eu tento me sentir mais confiante.

Se meu pai não quiser colaborar, pelo menos nós temos um plano B. Uma voz calma me diz, e eu aceito o consolo.

Anitta está olhando para ele com tanta expectativa e atenção, que parece nem respirar. Ela sempre conseguiu pôr mais fé no nosso pai — e às vezes até em nossa mãe — do que eu. Caso ele diga que não aceita colaborar, temo que Anitta caia dura no chão com o choque.

— Pai? — minha irmã chama. — Você poderia dizer alguma coisa?

Nosso pai está há trinta minutos parado na mesma posição, olhando pela janela. A espera é sufocante.

Por fim, ele solta uma respiração ruidosa, e nos encara, sério.

— Vocês têm certeza de que querem fazer isso? – quase reviro os olhos com sua pergunta.

Eu quero fazer isso desde que me entendo por gente, quero dizer a ele, mas me contenho.

— Sim, tenho certeza – Anitta diz, com a voz dura e decidida.

Papai me encara, esperando a minha resposta. Dessa vez quem respira fundo sou eu.

Se eu disser que sim, e ele aceitar, vai ser isso, não terá mais volta. Penso, por um instante, se eu sentiria falta do apartamento onde eu cresci, ou da minha mãe em si. Não demoro nem cinco segundos pensando, a resposta é clara, não, não sentiria.

— Sim, pai. Tenho certeza também — digo e escuto um suspiro de alívio vindo de Anitta. — Mas você vai ou não fazer o que pedimos? – pergunto a ele, já cansado pela espera.

— Vou. Vou fazer isso, é a minha decisão. – Ele diz.

A dúvida me atinge antes que eu possa rejeitá-la. Ele está fazendo isso por nós, os filhos dele, porque ele nos ama, ou está fazendo isso simplesmente porque Ana pediu e ele a ama?

Não faz diferença, digo para mim mesmo. Mas faz, faz diferença. E importa, esse é o pior.

— Por quê? – indago e Pedro me olha com, assim como Anitta.

— Por que o que, filho?

— Por que você vai fazer isso? Por que vai se dar ao trabalho de se mudar e levar a gente, tendo chances de criar mais um inferno com nossa mãe? Por quê? – pressiono e me sinto novamente um garotinho que busca migalhas de amor dos pais

Anitta me lança um olhar dividido, metade dela sabe e provavelmente está se perguntando o mesmo que eu e a outra metade é puro desespero e medo de que eu faça merda.

— Porque eu já errei o suficiente nos últimos anos, e se é isso que vocês querem, eu ficarei mais do que feliz em procurar uma casa nova. E mais que tudo, porque eu amo vocês, se isso vai ser o melhor, eu vou fazer. – A voz decidida e o tom convicto calam minhas dúvidas.

Mesmo que seja mentira, que se foda. Eu nunca teria coragem de me mudar sozinho e deixar Anitta para trás.

— Eu só tenho uma condição — anuncio —, Amora tem que ir com a gente. – Decreto

Meu pai me olha incerto e Anitta também.

— Ela pode ficar com a Luna e...

— Não! Você quer matar a minha filha? — interrompo Anitta irritado. — Amora vai com a gente, não vou deixá-la com a minha mãe e com a Luna, se eu deixar a coitada vai morrer de estresse.

— Ela vai com a gente. Só...mantenha-a calma, por favor — meu pai diz e eu sorrio. — Agora... Eu preciso ir — ele confere a hora no relógio de pulso. — Só peço que vocês sejam discretos, eu mesmo vou falar com a mãe de vocês.

— Tem certeza? – Anitta pergunta, duvidosa

— Eu vou falar com ela, isso não está em discussão. Tenho que ir, amo vocês. – Ele se despede, dando um abraço em nós e um beijo na cabeça.

Relaxo os ombros quando escuto a porta bater, sorrio feliz com essa pequena vitória. Anitta é menos contida e se levanta, pulando e dando socos no ar para comemorar. Quando me olha, vejo lágrimas no canto de seus olhos.

— Eu estou muito feliz! – Ela diz, se jogando em cima de mim e me abraçando.

Rio e a abraço de volta.

— Também estou feliz. Tive medo de ele não aceitar – dou voz aos meus pensamentos.

— Eu também – Anitta confidência com um suspiro.

Ficamos ali, quietos, numa felicidade silenciosa, observando o sol nascer pela grande janela de vidro da sala. A paz é bem-vinda, mesmo que seja por pouco tempo.

— Tenho que me arrumar — falo, me levantando.

— Oliver! — Minha irmã me chama, e eu me viro para olhá-la

— Sim?

— Nós vamos ao aniversário da Melissa, né? É na semana que vem, já — ela diz. — Ela mandou um convite para o Fê também, vai ser nossa primeira festa juntos. Você vai também, né? Por favor. – Anitta bate os cílios e faz a famosa cara do Gato de Botas.

Suspiro, relutante, mas balanço a cabeça positivamente para ela.

— Nós vamos, eu já tenho até a escolhi a minha fantasia – digo a ela e lanço uma piscadela.

— Nós vamos, eu já tenho até a escolhi a minha fantasia – digo a ela e lanço uma piscadela

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